PERDIDOS NA SELVA
re publicando…
As vezes me deparo com uma citação da musica “Perdidos na Selva”, e fico espantado com a desinformação generalizada do que é, realmente, aquela jóia “cult” do “pop” brasileiro… Já vi muitas publicações na “rede” creditando até mesmo a autoria ao Barão Vermelho, levando a crer que é uma música do genial amigo Roberto Frejat… quando na verdade o Barão regravou magistralmente a canção originalmente gravada pela Gang 90 e Absurdettes. Mas basta dar um “google” para ver que nem a Gang 90 aparece mais !
Resolvi então contar as aventuras, o que realmente aconteceu – a sequencia extraordinária que levou a que esse hit inaugural dos Anos 80 se tornasse um clássico fundamental do Brasil Moderno, e qual a parte que me cabe nessa historia…Não é pouco.
É na verdade um marco indelével na minha trajetória. Esse momento mágico me abriu todos os caminhos poéticos e comportamentais para que eu desse uma guinada espetacular na carreira : gratidão eterna a uma linda amizade poética que me ensinou a destravar a minha liberdade .
Viva Julio Barroso, viva o trabalho criativo coletivo, que envolveu mais pessoas do que se possa imaginar. Julio era um jornalista, DJ , um gerador inesgotável de conteúdo, e pertencia a uma geração de jornalistas e artistas, uma turma muito à frente do seu tempo… amigos que o ajudaram naquele momento de formulação de um movimento : Gang 90 foi na verdade um movimento estético. Foi uma curtição de várias pessoas muito criativas, como Okky de Souza, Denise Barroso, Antonio Carlos Miguel, Katy Pinto, Tavinho Paes, Nelson Motta, Leonardo Netto. Eu,na verdade,entrei para resolver a parada, ensaiar a banda, pré-produzir,e principalmente dar acabamento e viabilizar no estúdio : para isso é que eu fui chamado.
E adorei, como vou contar a seguir…
Embora eu seja muito grato, e dê total valor à minha arte de tocar instrumento, sou genérica e miseravelmente citado na categoria “músicos que participaram da gravação”…
Ora, isso é mais do que uma mentira, é uma sacanagem inconsciente de pura inveja, a tal “inveja santa” de tantas pessoas que gostariam de ter estado ali, e fazer tudo que eu fiz… Fiz acontecer.
Esse papel secundário é uma redução vergonhosa, proposital e despeitada da parte de alguns formadores de opinião que se dedicaram a resenhar o pop rock brasileiro, publicando livros sobre esse incrível movimento,e no afã de dar o justíssimo destaque à genialidade seminal do meu parceiro Julio Barroso,um revolucionário,não por acaso “jornalista” brilhante e colega de redações de toda aquela (ótima) geração da inteligentzia vanguardista do final dos anos 70.
Desde sempre louvarei a realidade,de que Julio Barroso é o autor,evidentemente,de 70% da letra,autor da idéia libertária da banda,um poeta transformador e “figuraça” obrigatoria da cena riquíssima que se projetaria fulminante na abertura da década de 80.
Saboreio e compartilho meu quinhão nessa obra prima..até porque lembrar os detalhes e poder contar essas peripécias é motivo de muita alegria e de orgulho não só pra mim, mas para todos da “banda”, inclusive os posteriores que se agregaram a esse movimento. A Gang 90 é nossa !
É muito minha também, sempre será.
Em 1979 e 1980 eu havia gravado dois discos sob produção do Liminha, para a Warner do Midani, e a gravadora nos tratava muito diferenciadamente, Midani era um gentleman, um big boss afetivo e muito influente com sua cultura e incomparável “mondanité”… Muito acertadamente hospedando os artistas em Ipanema, na Prudente de Morais, altura da Rua Farme de Amoedo, em pleno Posto 9.
Eu costumava naquelas areias escaldantes ( basta ver as fotos da época..kkk. eu paulistão transformado em um quase surfista …invejoso.. pois jamais subi numa prancha na vida … só jacaré , o caipirão …) indo muito à praia, Ipanema, Arpoador…que lindo aquele Rio de 1980… encontrar Marina Lima, Dadi da Cor do Som, as Frenéticas Leiloca e Lidoca, e muitos amigos inesquecíveis como Paulette, Lauro Corona, e o meio artistico inteiro… Quem viveu Posto 9, Farme, no final dos anos 70… pode dizer que viveu boa parte desta vida !
E quem é que morava bem ali na Vieira Souto com Farme ? era o Barrosão, querido pai de duas figuras delirantes, o Julio e a Denise Barroso.
Julio eu conheci ali mesmo, na areia, pisando as ondinhas do quebra-mar… era um cara muito delirante e vulcânico, com idéias mirabolantes que borbotavam em mirabolâncias estratoféricas de sua verve culta que misturava Mallarmé com Kerouac… isso eu me lembro que foi assim, de cara… sem ninguém pra me apresentar, fui abordado por ele. E eu me assustei, talvez eu fosse todo metódico e “certinho”, a primeira impressão diante daquele Júlio Barroso (que eu nem sabia muito bem quem era…) foi querer distância.. me parecia parecido com outros “doidões” daquele período, um estilo que estava tão na moda, Damião Experiença, Guilherme Lamounier, Serguei… Um final de fase do Rock… Contracultura era um alicerce,mas eu era mais contido,mais encucado e com sérias críticas ao lado porra-louca e sujismundo dos velhos festivais de Rock… Só que Julio era literalmente um passo além…Me acendeu uma lampada…
Não demorou muito para que, no final de 1980, Leonardo Netto me ligasse pra São Paulo para me convidar pra fazer a direção musical da Gang 90, que o Nelsinho Motta estava lançando pelo seu selo independente “Hot”, distribuido pela Warner… , Leo sempre foi um amigão querido, diretor de Marketing na WEA, e eu era frequentador da sua casa na Rua Santa Leocádia, em Copacabana, então tínhamos muita afinidade, e eu me sentí atraído pela idéia. Me convenceu a topar.
Eu passava por um período de revisão geral da minha estética, os meus discos roqueiros com Liminha na WEA não tinham tido o resultado que se esperava, o pretensioso “Coração Paulista” havia “flopado” sem sucesso, e eu já estava recebendo cartão azul na WEA : não iriam renovar. Ferrado, eu estava aberto a “experimentar”. Primeiro degrau para o exito… Paradoxalmente frente ao meu desastre, eu tinha acabado de emplacar “Aprendendo a Jogar” na voz da Elis, um hit espetacular mostrando o caminho da simplicidade, da brincadeira, e estava preparando um repertorio mais pop e mais radiofônico – as FMs estavam explodindo no “dial”, e eu precisava “me virar” pra não desaparecer de cena.
Tendo alugado uma casinha na Rua Caramurú, perto da Estação Casa da Arvore do recém-inaugurado Metrô de SP, eu vivia um novo momento, pois eu saía de casa de manhã para “trabalhar” , de Metrô..tudo me parecia novo, com mais liberdade do que em casa ( Marietta era bebê, tinha nascido em Maio…e eu precisava de “ares” novos ) então agora eu tinha um “local de ensaio” – que seria precioso para compor um monte de hits … como “O Melhor vai Começar”, “Deixa Chover”, “Planeta Agua”, “Pedacinhos”… Só lembro que por causa desses “detalhes”, eu era feliz. Eu estava usando intensivamente um “kit” de instrumentos que foi muito importante pra mim. O piano Yamaha CP 70, combinado com um flanger Mutron, o meu velho Minimoog com camera de eco Echoplex Maestro, uma mesinha Tapco de 6 canais com reverber de mola embutido ( que eu havia comprado de segunda mão de uma banda se SP, o Grupo Fragata do Ronaldo Pascoa ), um microfone Shure SM 59 , recém-comprado junto – num abençoado sábado que fui à Leimar na Rua Bandeirantes – com um ítem que seria decisivo naquele momento para compor os hits : uma bateria eletrônica Electro Harmonix DRM16 , um stompbox precaríssimo, muito “disco” , muito eletrônico, mas que apesar das limitações, me ajudaria a colocar ritmo nas minhas musicas. Eu tinha um par de caixas Lando enormes funcionando como monitores… e estava compondo compulsivamente, tentando salvar a minha carreira.
De grana, eu estava arruinado. Sem sucesso e sem shows, tive inclusive que vender uma bateria Ludwig azulzinha , que eu tinha ali guardada mas não tinha banda para usar… acabei vendendo ela para o Eduardo Lemos da Transassom, por 2.000 dolares, para pagar os aluguéis atrasados de minha casa na Rua Juaracê, Vila Mariana, aluguéia que estavam vencidos há 4 meses e eu estava sendo despejado, com a Marcia e a Marietta…
Mal eu sabia…. aquela bateria, 3 meses depois, com o estouro de Deixa Chover, eu alugaria pelos mesmos 2.000 POR SHOW !!! É a vida ! Eu jamais poderia imaginar que eu estava a 3 meses de me tornar o numero 1 no Brasil…
Então nesse meio-tempo resolví aceitar a empreitada de dirigir a Gang 90.
De cara, com a letra do Julio Barroso na mão, fui dedilhando uma levada com a bateria eletronica e o Piano CP 70 com seus graves poderosos, bem à la Billy Joel, com um riff que remetia ao “Coração Paulista” que eu tinha lançado no primeiro semestre de 80… só que a batida, com a DRM16, estava na onda da Rita Lee com Roberto, de “Chega Mais”, de “Corre, Corre, Corre”… eu estava no caminho certo…porque estava divertido. Eu era muito resistente ao “bumbo reto”da onda “DISCO” que dominava a cena mundial, e, claro, a cena brasileira… Isso já havia rendido, no passado, muitos debates com o meu produtor e diretor artistico Liminha, nas nossas sessões de estudio recentes, e eu tinha uma “vergonha” da batida reta – teimoso, fazia o meu proprio processo de composição ficar engessado no preconceito… Com a chegada da stompbox rítmica, porém, eu agora ficava me deliciando em ter aquele “drive” rítmico nas mãos, com as teclas mais graves do CP70 fazendo linhas de baixos em oitavas, na verdade eu estava me reinventando, oxigenando meu som .
Perdidos na Selva seria uma OPORTUNIDADE DE MERGULHAR SEM NENHUM PUDOR NAQUELA BATIDA, porque não seria um produto do Guilherme Arantes, para o Guilherme Arantes … era uma experiência especialmente encomendada para uma banda “fabricada”, o descompromisso era total… então eu deitei e rolei propondo aquele “drive Disco Inferno” modernoso e “comercial” . Sem querer, só de brincadeira, eu estava “ inventando o Pop” …Aquela introdução histórica, com toques de progressivo no trinado agudo do piano e poderosos acordes heavy metal fazendo o suspense incendiário, realmente se tornaria um marco no Pop Rock e fulminava o publico instantaneamente. Lembrava Silvester, lembrava grandes hits de pista. Eu queria impressionar Julio, a turma do Julio, o Nelsinho, e toda a “inteligentzia” da crítica musical ali representada, e principalmente a Warner que estava me dispensando, então estava tentando dar o melhor de mim .
O grande problema de Perdidos na Selva era a FALTA DE UM REFRÃO. Não existe hit sem refrão. Para resolver logo aquele impasse, compus música e letra do trecho “Eu e minha gata rolando na relva… rolava de tudo… num covil de piratas pirados… perdidos na selva !!! “ …
Julio adorou, Nelsinho e toda a turma aclamou : é Hit.
Esse refrão se tornaria o maior sucesso da banda, até hoje. Outros músicos, mais tarde, imprimiram suas competências, suas marcas, cito como exemplo o Herman Torres, guitarrista, que fez Nosso Louco Amor, que viabilizou a Gang 90 em outro grande sucesso da banda, dois anos depois. E Herman, na História Oficial que é contada, também foi reduzido à categoria de “músicos que participaram” …
Voltando a “Perdidos na Selva”, foram então iniciados os ensaios com aquele bando de malucos: o Júlio, feliz da vida porque agora já o sonho virava realidade, e a música tinha agregado agora o refrão explosivo – o aroma do sucesso estava no ar, uma euforia só . Os músicos, excelentes, eram o Gigante Brazil ( Bateria) um velho amigo das batalhas contraculturais do circuito Bexiga/Morro dos Ingleses, um baterista mortal, tribal, um relógio !
Puxa que saudade… como eu adorava o Gigante !!… e mais duas novidades pra mim, o Wander Taffo ( Guitarra) e o Celso Vechione ( Made in Brazil , Baixo )… Músicos que haviam sido escolhidos num critério de “ecletismo” total – a ideia era formarmos uma espécie de “cover” de “Kid Criole and the Coconuts” – essa concepção Júlio trazia na raiz da idéia, era coisa que havia sido concebida ainda em Nova York, em suas temporadas de DJ…E eu ajudei também a formatar o restante do repertório, todo ele genial, concebido por Julio. Tinha um pouco de tudo naquele caldeirão. O sopro poetico delirante de Julio entrou como uma aragem , um vento revolucionário no meu espaço criativo particular, e eu me sentí abrigado numa turma nova, uma sensação de completa renovação. Pra mim, algo mais: eu estava brilhando do lado de dentro da imprensa especializada mais moderna, e Julio adorava as musicas que eu estava fazendo na época, como “Todo Mes de Maio” – era um incentivo importante numa hora crucial.
Como vocalistas haviam a genial holandesa Alice Vermeullen – mais tarde rebatizada artisticamente como Alice Pink Pank ,na epoca ainda “paquera”do Julio, recém chegada ao Brasil, a Denise Barroso, sua irmã, uma pessoa muito querida e afetiva, poetisa, engraçadíssima, casada na época e vivendo com Okky de Souza (meu amigo jornalista e já parceiro de letras, que na época frequentava a minha casa ), a Luiza Maria, que era discotecária junto com Julio Barroso e Dom Pepe nas casas de Nelson Motta, e para completar as “Absurdettes”, a Mae East, Maria Elisa Pinheiro, uma cantora muito criativa e artista de vanguarda, que na época estava namorando o Nelsinho Motta. Nelsinho havia inaugurado num shopping da Av. Faria Lima uma discoteca “cult”, a “Paulicéia Desvairada” e ali a Gang 90 teria seu palco de estréia e de residência, já que Julio e Luiza comandavam as Pickups.
A Gravação Histórica : Devidamente ensaiados os músicos (era uma curtição total, já que a combinação com Gigante Brazil e com a guitarra fulminante de Wander Taffo rendia um “drive” inacreditável com o meu piano. Estava inventado o Pop dos anos 80. Fomos então para o Estúdio na Rua Bocaina 72, o Nosso Estúdio , um point importante da música brasileira , e numa única sessão, uma tarde e uma noite, gravamos, sob o comando do saudoso amigo Marcus Vinicius, o legendário “Vinicão”, as bases, vocais e mixamos “Perdidos na Selva” para ser o lado “A” e Lilik Lamê” , o Lado “B”. Claro que, sob todos os aspectos, todos confiavam plenamente no meu taco, eu era o produtor, arranjador, fazendo milagres, com grande alegria, porque afinal era “só” uma brincadeira …Perdidos na Selva, uma parceria legítima e inesquecível de Julio Barroso comigo, teve a minha voz à frente, porque simplesmente ninguém da Gang 90 ou Absurdettes ainda sabia mesmo cantar … exceto, é bem verdade, a Alice , pois era a mais descolada musicalmente, afinada e refinada com suas influências européias. Mais tarde, ela mostraria seus talentos . Naquela circunstância, alguém teria que tomar a frente e liderar o côro. Na mixagem, Marcus Vinicius exagerou na minha voz…acabou ficando puro Guilherme Arantes com umas notas de Gang 90 !!! Além do arranjo, do piano, fiz aqueles chiquérrimos “Minimoogs” ao estilo de Gary Numan ( que eu ouvia muito naqueles meses, junto com Warren Zevon, The Cars, David Edmonds e outros …)
Já Lilik Lamê teve a voz de Denise , um pouco titubeante mas tão verdadeira – justamente porque não era cobra-criada, era espontânea, uma música linda de Siouxie and Banshees, canção de John Severin, bem pós-punk , com letra de Julio com Katy Pinto e A.C. Miguel.
Com a inscrição de Perdidos na Selva no Festival MPB Shell-81 , eu fui obrigado a escolher uma canção para prosseguir no festival , já que Planeta Agua estava inscrita e também foi selecionada . Guto Graça Mello, diretor do Festival, me ligou para resolvermos como ficaria resolvido esse impasse, pra eu não ser desclassificado ao descumprir o regulamento… Ora, para mim, não tinha problema algum abrir mão da parceria com Julio, para efeito daquela circunstancia do Festival, já que a Autoria , assumida no Copyright da Editora, poderia ser revista mais tarde – Julio era como um irmão para a gente.
Era como um irmão para todos nós, todos os que conviveram com ele.
De minha parte, sei que foi reciproco.
Não houve tempo… e nem motivação da minha parte… para modificar os créditos daquele Copyright editorial. Ficaria como um presente para Julio, por tudo que ele nos deu de inspirações.
Essa é a história verdadeira de “Perdidos na Selva”, que eu gostaria que nunca mais fosse esquecida. E nem reduzida a uma mera “participação de músico” numa ficha técnica de um Compacto Simples transformado em raridade de colecionador.
Uma Ucrania por segundo
Epifania da Vida Eterna II
Viver seria eterno. Em si.
Eterna seria a vida que vivemos de fato, e não uma “continuação” em outro “Plano Superior” . Isso poderia parecer claro para mim. Mas não é. É nebuloso.
Não existe “undo” do verbo Viver. Não se poderia “desviver”.
É por isso que a vida seria eterna.
O conjunto de vivências de um ser é indestrutível. Indelével. E vejam bem : qualquer Ser.
Não precisaria ter “consciência” para ter uma alma, uma “ânima” eterna. Os Seres vivos, uma vez existidos, passariam a Ser Eternamente.
Vivido foi, registrado estaria, eternamente, porque o Tempo é uma ilusão, e no Plano Metafísico do Universo não existiria um Curso do Tempo.
A VIda Eterna seria, pois, uma dádiva, simplesmente porque tudo aquilo que vivemos jamais morrerá.
Não haveria como desfazer nenhum milésimo de segundo da vida que nós vivemos, e esse seria o grande Mistério libertador,
A Vida Eterna não seria um roteiro que nos coubesse percorrer na linha do Tempo, porque o Tempo seria uma representação da nossa percepção daquilo que chamamos Vida. Não seria assim que a Vida funcionaria, ao longo de uma linha. A Existência não seria relativa, seria Absoluta.
Qualquer proposta de “meritocracia para a Vida Eterna” seria, portanto, uma Heresia contra a Natureza Divina da Vida. Poderia existir, sim, em nós, a Consciência dessa Permanência, e é por isso que poderíamos desenvolver o arbítrio da Vontade, para modificarmos nossos comportamentos e deixarmos um legado eterno de qualidade, a nossa Vida, que sempre ficaria para sempre.
Qualquer suposição de Hierarquia na concessão da Vida Eterna seria então uma fantasia, uma prisão, um determinismo criado com o objetivo de submeter, escravizar, aquilo que já seria, em si, Divino e Atemporal. Vivo.
Viver seria Libertador. Morrer também.
Porque a Humanidade se esforçaria tanto em criar Sumbissão ?
Epifania da Vida Eterna
Ontem, vendo um debate no Canal Curta ( aliás um canal que frequento porque é ótimo – uma raridade…) de repente me veio uma “sensação reveladora” . Adoro “sensações reveladoras” porque são involuntárias e geralmente revolucionárias…
De repente, num relance, num flash , me veio uma foto do que seria uma outra realidade que nós ignoramos ( ou fazemos de conta que ignoramos )
…e se a tão decantada “Vida Eterna” , tão preciosa para a construção daquela estrutura luxuosa, a elaboração daquilo que nos acostumamos a chamar de “Religião” … fosse nada mais do que a mera representação de nossa precariedade infinitesimal ?
Eu vivo me perguntando, diante de um Cemitério : “O que está ali ?” “O que é aquilo ?” … me perguntando diante de um Templo : “Quem mora ali ?” … “Mas não está em toda parte ?” , “Então o que habita naquele lugar ?” , “Aquelas torres buscam o que ?” “Aqueles sinos chamam para onde ?” “Aqueles altares oferecem o que ? e para Quem ?”
Mas não me chamem de ímpio, porque Creio.
Tenho o direito de Crer do jeito que eu quiser.
E a minha Crença é profundíssima, no Mistério. E a minha Crença no Mistério já é , em si, uma Revelação. A Minha Revelação,
e que não É de Ninguém mais. Porque Creio na Santidade do Desapego.
… e se a “Vida Eterna” fosse mais uma prisão inventada pela própria perversidade humana ? Para que, realmente, Vida Eterna ? Para a nossa Vaidade ? … e se ao morrer, simplesmente, de morte morrida, estivéssemos libertos de fato ? Sem continuação ? Algum problema em não ter Continuação ? Porque e Vida teria que ser um Seriado ? Com os Próximos Capítulos ? E se morressemos sem nenhum compromisso de coisíssima nenhuma além desta vida tão temporã, de carne-e-osso, tão real e concreta quanto as vidas das conchinhas do mar, das algas, das medusas, das borboletas e lagartixas, das pulgas, dos mosquitos, das bananas e figos, de cada gão de trigo filho do mesmo Universo Criador, e nada, nada além dos cães tão sentimentais, dos gatos tão sensíveis, dos queridos chipanzés, das formigas tão militares, dos falcões e águias mais arrojados, dos golfinhos mais perceptivos, dos bichos-preguiça meditativos, dos chipanzés quase humanos, de toda a sensacional variedade da vida na Terra, uma bênção do Universo à qual simplesmente faríamos parte, miraculosamente pertencentes a uma biosfera raríssima e preciosa… ?
… e que tal estarmos livres de qualquer estrutura hierárquica ?
Não seria a promessa da VIda Eterna uma condenação ? Porque tanto apego à Permanência ? Permanecer porque? Para que ? Para a glória de que mistificação criada por nossa pretensão ? E ainda à nossa semelhança ? Mas isto não seria uma concepção absolutamente “caipira” ? Somos suburbanos do Universo ? A quem beneficia a idéia de um Plano especial para a Espécie Humana ? Precisamos disso ? Em nome disso, quanta água já passou debaixo da ponte das mazelas da Humanidade ?
A idéia da morte como LIbertação é perfeita. Teriámos realmente que ir para algum lugar ? Esta vida prodigiosa na Terra não nos basta ? Que história mal contada é essa de um tribunal celeste ? E mesmo que tivéssemos nossas contas aprovadas pela Comissão de Sindicância , qual monotonia eterna de platitudes e prazeres-sem-fim nos aguarda ?
Não seria isto uma idéia ridícula ?
Não me levem a mal pelas perguntas.
Nâo são heréticas, eu juro. Perguntar não ofende. Sei que fui concebido assim mesmo, perguntador, e o Universo gosta disso, eu confesso,
Confesso até que perguntar é o meu segredo.
Porque o Universo não está aí para ser respondido. Só Perguntado.
Esse é o Princípio do meu Respeito.
Efeito Lúcifer
Baile de Mascaras
Logo no primeiro ano da carreira-solo, em 1977, eu pude saborear o refluxo do êxito repentino da minha estréia na Som Livre em 76, sob o guarda-chuva frondoso da Globo, e pagar todos os pecados do mundo, pois como dizia o Jobim em uma de suas inumeráveis “tiradas” brilhantes, fazer sucesso no Brasil é ofensa pessoal.
A face mais visível do rancor vinha do ambiente universitário – eu era tratado pejorativamente como “o nosso ídalo”, pelos colegas mais mordazes, que brincavam de forma jocosa com minha súbita fama nos auditórios da Televisão… O ambiente carregado politicamente – poucos meses antes havia ocorrido a assembléia da “Libelu” no salão Caramelo da FAU , na USP. O Brasil vivia a plenitude dos anos de chumbo, e o sarcasmo do “Pasquim” pontuava o discurso da maioria dos colegas…Muitos andavam (como eu ) de ônibus da CMTC (a nossa lendária linha Largo da Concórdia – Cidade Universitária ) e almoçávamos no bandejão do Crusp. Já uma outra ala dos colegas eram os granfinos dos Jardins/Alto de Pinheiros, que iam à Faculdade em seus lindos automóveis e formavam um contingente mais conservador e refinado. De um modo geral, todos se misturavam cordialmente num ambiente rescendente a Realismo Fantástico, O Despertar dos Mágicos, 100 Anos de Solidão, Eric Von Daniken misturado com Eric Hobsbawn, Huxley misturado com Castañeda, Kafka com Mautner…Só que ninguém estava preparado para ver o “Gô” , o “Chocolate”, o “Guigui” nas telas do Globo de Ouro…assim, sem mais nem menos…
Outra face problemática me surgia dentro da gravadora, porque o querido e saudoso João Araújo, vamos dizer, naquela época, era um pouquinho o que minha avó chamava de “rempli de soi-même”, embora me atendesse sempre com atenção, graças ao carinho da secretária, a adorável Neila… Me lembro de encontrar Cazuza, um menino, nos corredores da gravadora…Mais tarde, muitos anos depois, Cazuza me contaria que o seu pai tinha verdadeira adoração por mim… Pena que, em 77 ele não demonstrasse isso, como se eu fosse apenas um “amor inventado” . Mesmo assim, até mesmo um crachá de “livre acesso” da Globo eu havia conseguido, através da secretária Neila, para entrar na Vênus Platinada, e ver, de longe, o clima das gravações das novelas.
João achava que eu deveria tentar adicionar aos meus talentos a arte dramática, ou seja, que eu fizesse curso de teatro no Tablado e tentasse a carreira de ator. Mas isso não estava absolutamente nos meus planos, eu sempre me achei canastrão e jamais quis ser algo mais do que compositor e cantor. Me lembro que João não gostou muito dessa minha restrição, acho que eles já estavam a caminho de lançar o meu colega, bom ator, Fábio Junior, multitalentoso que era para cumprir essa paleta de atividades que a TV estava procurando, um sonho hollywwodiano seguindo a tradição americana de “performing arts”…
Comecei então a achar que havia algo errado, e já me encaminhava para uma trajetória de colisão. Infelizmente. Porque não havia nada de errado em lugar algum. Eu é que não conhecia nada do mundo.
Sempre fui um cara meio problemático e ensimesmado. Nesse período, isso se acentuou.
O mercado não tinha muitas alternativas, eu abracei os auditórios populares da televisão com prazer, mas eu sabia que teriam sido melhor para mim alguns espaços diferenciados como os finados Festivais, os antigos musicais da Record eram coisa do passado, aqueles eram anos de chumbo, de censura, e eu havia me tornado uma exceção ao conseguir destaque num tempo de desilusão, incompreensão e muita polaridade. Poucas coisas logravam frutificar. Eu era uma delas.
Morando sozinho num sobradinho de uma vila na Rua Ferreira de Araújo, Pinheiros, eu me libertava do clima familiar pesado, pois eu estava trancando a matrícula na Arquitetura (para desespero e repúdio dos meus pais…) Para resgatar meu acento geracional, eu montei uma banda com forte acento “progressivo”, com o querido Paulo Soveral no baixo, o querido Guido Carli na bateria e o talentoso, mas “exigente” J.C.Prandini do Apokalipsis na guitarra e flauta. Os ensaios eram na salinha do meu sobradinho alugado, eu tinha um piano “petit” Brasil microfonado com captador piezo Barcus Berry que a Márcia Vital havia trazido para mim de Nova York, era o que existia na época, antes da revolução do Yamaha CP70, um ano depois …e eu havia comprado um Minimoog na antiga loja Del Vechio da Rua Aurora, me lembro bem, por 800 dólares. Esse Minimoog era um sonho para mim, me acompanha até hoje, vale uns 5.000 dólares, tem o número 00268 da fabricação inglesa, e como eu, aliás, somos muuuito valorizados no mercado de “vintages”… As gravações do segundo disco já foram um pouco atribuladas, sem que eu, desta vez, pudesse contar com a proteção e competência do produtor Otavio “Pete Dunaway” Cardoso, que havia me revelado no disco anterior. Teria Otavio sido o meu anjo da guarda, meu descobridor. Mas eu agora estava sem ele. Fui com a banda para o Rio, e nos hospedamos no Hotel Ok da Senador Dantas, na Cinelândia. Muitos problemas na banda, especialmente com o genial Prandini – um chatão, que questionava a produção do adorável Marcio Antonucci (da dupla “Os Vips”). Gravamos nos estúdios da Sigla, o Estudio Level, na Rua Assunção, em Botafogo. Entre muitas dificuldades, o órgão Hammond inglês tinha uma voltagem européia de 240V , e uma ciclagem diferente, de 50 Hertz, que não afinava de jeito nenhum com as bases… Esse órgão era do Andy Mills (ex-engenheiro de som do Alice Cooper, que se apaixonara pelo Brasil e ficou com vários equipamentos da tournée do Alice Cooper, para vender na Terra Brasilis…)
O piano, no Estúdio da Som Livre, não era tão bom, não me lembro porque, tinha um som seco, e fizemos o que pudemos com efeitos como o Phaser Maestro…Esse mesmo phaser usamos em Amanhã, e em Baile de Máscaras, no Elka Rhapsody
Um parêntese : essa “string machine” legendária eu recentemente reencontrei no Ebay da Alemanha e obviamente comprei na hora !!!
Me lembro de encontrarmos pelos estúdios Level a Rita Lee e o Roberto de Carvalho preparando com Guto Graça Mello o que seria o “Arrombou a Festa”, ou talvez o futuro disco “Babilônia”…não sei bem, a memória já me falha a estas alturas…
Baile de Máscaras : A música mais “Elton John “ do meu repertório.
Muita gente tinha (e muita gente ainda tem) o costume de me qualificar como “o Elton brasileiro”, “o nosso Elton John”… Sei que é carinhoso, mas é uma responsabilidade, de toda forma eu não ligo, pois me sinto honrado de frequentar a mesma prateleira dos discos do mestre Reginald Dwight. Adoro ele. É um gigante, um grande perfomer, um showman, e uma pessoa de grande valor, com muita superação e uma história de vida corajosa, muito generosa. Aprecio principalmente quando surgiu, intenso e angustiado, como eu também queria ser e me identificava. Competente pianista com acento clássico mesclado com blues, Elton tem uma voz expressiva, maravilhosa, e um trabalho muito pessoal, de qualidade monumental. Inúmeras canções dele são primorosas, irretocáveis, com a parceria virtuosa do poeta Bernie Taupin, uma dupla muito inspirada. Essa comparação sempre foi um desafio positivo para mim, pois me levava a uma cobrança interior de superar as minhas limitações. Eu tinha que me virar fazendo as letras também, e essa é uma diferença importante entre nós. Elton não costuma escrever letras. Sempre foi muito nobre nas harmonias e melodias, embalado por orquestrações luxuosas londrinas, que eu jamais poderia sequer sonhar. A sua qualidade dos pianos, então, é algo humilhante, e não só para mim, mas para toda a concorrência mundial. Ninguém chega nem no chinelo. Pianos inacreditáveis, em estúdios estratosféricos, com microfones e pré-amplificadores sem paralelo. Arranjos, regências e, especialmente, músicos da Royal Philharmonic, já nos primeiros trabalhos, tudo trazia aquele “British Royal Aplomb” privilegiado.
Eu não imitava o querido Reginald. Aliás, eu nunca imitei ninguém, não é da minha natureza macaquear trejeitos ou maneirismos.
Perdão, eu devo corrigir, imitei sim. Imitei Ray Charles, em 58 eu tinha 5 anos, quando minha avó me deu uns óculos escuros da ótica Lupo de Araraquara, e eu usava até de noite, dentro de casa, e tocava de ouvido “I Can´t Stop Lovin´You”… Eu quis ser Ray Charles, é uma paixão para a vida inteira…Eu sempre gostei de incorporar o que vinha no rádio, na TV. Tom, Chico, Milton, Ivan, Taiguara, etc… Mas eu assimilava com profundidade, tentando “matar a charada” da estrutura deles.
Então em 1977 eu lidava com essa comparação, até porque Reginald havia se transformado no “number One” do Big Business…era impossível cair fora, por mais que eu não me sentisse confortável, sabendo das minhas muitas limitações…
Depois que as primeiras baladas, Meu Mundo e Nada Mais e Cuide-se Bem me projetaram nas rádios, eu resolvi me debruçar na composição e fazer jus a essa honraria, e sentei ao piano com a incumbência de não decepcionar demais essas expectativas. Nasceria então “Baile de Máscaras”.
Acho linda essa música. Tenho um orgulho danado.
Muitas músicas não ascendem ao panteão dos “grandes sucessos”, mas como eu digo sempre, o sucesso é uma coisa superficial e circunstancial.
Não vou recontar as desventuras e atrapalhações dessa época, que fizeram esse disco ser uma pérola misteriosa, com “Amanhã” sendo um grande destaque, porque acabou entrando numa grande novela, “Dancin´Days”.
Baile de Máscaras até entrou em “Espelho Mágico”, uma novela de curta duração que foi retirada do ar por causa da fraca assimilação do roteiro, com metalinguagens ousadas de “uma novela dentro de outra novela”…
Como composição, porém, para mim, assim como para um número inacreditável de fãs verdadeiros do Guilherme Arantes, permanece como uma das melhores !!!
Um dia, vou gravar um clipe em Veneza !!!
Ah… mas vou mesmo !
Podem apostar !
Meu Mundo e Nada Mais
Em 76, nos primeiros trabalhos, ficava claro o quanto eu já vinha com estranhamento em relação ao “Show Business”. Tudo o que eu queria era apenas compartilhar minha angústia, minha enorme solidão, numa estética, numa ética, muito particulares. No fundo, era como hoje ainda consigo ser, um enigma: Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto, à meia-noite, à meia-luz, sonhando, daria tudo por meu mundo e nada mais. Já era um manifesto, em si. Não teria ternos cintilantes, óculos-de-borboleta (como quiseram na capa, mas eu pulei fora ..), nem atitudes de auto-indulgência na vaidade canastrona. Nada. Lutei bravamente durante quase meio século, atravessando todo tipo de cobranças e “decepções” desse “Show Business” que me queria “entertainer” e eu nunca me entreguei. E até mesmo alguns meses antes, no festival de Iacanga, com o meu Moto Perpétuo, diante da “realidade bruta” da cobrança de “performar para agradar”, logo enxerguei contra exatamente o que John Lennon havia se rebelado porque era basicamente um rebelde e suas letras são confessionais e são obras de Arte, a maioria fugindo do “divertissement” tão apreciado pelo mundo histriônico e frenético do “hype” artificioso. Com apenas 22 anos, eu podia não saber exatamennte o que eu queria, mas sabia perfeitamente “em que” eu não queria me transformar.
Estou aqui, sei que o tempo passou. E não faz mal se trago a mesma angustia, porque também para mim não faz a menor diferença se o mundo, com todos os seus “hypes” artificiosos e suas mentiras de sempre, continua exatamente o mesmo, ou pior.
É como se, ao menos moralmente, no espírito, o tempo não houvesse passado.
O Multitarefa e a Especialização caricata
Sempre fui produtor de meus discos. Mesmo quando havia um “produtor in charge” nas gravadoras majors… Compositor, letrista, pianista. Programador gráfico nas capas e encartes. Programador de teclados e beats. Consertador de órgão transistorizado, lubrificador de órgão Hammond. Trocador de cordas de piano Yamaha e de Clavinet Honner. Afinador de piano de cauda. Restaurador de laca e de pinturas vinílicas.Técnico de manuteção, soldador de cabos de microfone – aprendi com o legendário Seu Joaquim , na Vice Versa, que me fez de auxiliar e me ensinou a fazer a solda redondinha e brilhante) . Arranjador de metais já no primeiro compacto simples, no Estudio Gazeta, sob produção do Otavinho “Pete Dunaway” Cardoso. Escritor de releases, desenhista de cartazes e lambe-lambes. Colador de Lambe-lambe nas ruas de São Paulo. Fabricador de piano falso de acrílico para ir cantar no Raul Gil e no Bolinha, quando eu odiava não ter piano pra tocar na TV.
E tantas cositas más… Ainda hoje me surpreendo com as opiniões e perguntinhas pertinentes : “Mas quem vai produzir o seu disco ?” “Ah… voce mesmo ? ah… entendi…produção caseira…” Antigamente vinham as sugestões, de Liminhas e Ronnie Fosters, de Malulys, Max Pierres e Mazollas , depois ficou assim: “Não rola um Roy Cicala ? Um Jack Endino ? “Porque voce não chama o Kassin ? ” “Marcus Preto ?” “Pupillo” ? Tó Brandileone ? … Pessoal, eu amo todos eles ! Os produtores são importantíssimos e foram muito respeitosos comigo, me ensinaram tantas coisas. Só que eu vou explicar uma detalhe que faz toda diferença. Nunca houve um produtor melhor para mim mesmo do que um tal de Guilher,e Arantes. E eu banquei ele, também, até ele aprender, porque é errando que se aprende… Mas ele tem uma vantagem : é vitalício, e não me abandonou jamais, nem me abandonará. . Aprendí isto só agora. Fui gravar meus pianos de um trabalho novo. Jamais houve nada parecido. Uma humilhação total. Uma combinação de local, instrumento, de microfones e pré amplificadores sem nenhum termo de comparação em toda a minha vida. Quando eu puder revelar finalmente do que se trata, vai ser um assombro. Nunca um produtor conseguiria o que eu conseguí proporcionar para puro deleite do meu público , com muita luta e competência. Desta vez foi demais. Em breve se revelará.
E hoje eu olho pra trás, com tanta alegria de ter sido sempre assim, e de ainda hoje, e mais do que nunca , continuar a ser assim.
A Música é um sonho para quem quiser sonhar. Mas tem que querer, muito.
Cheers !
Enxergar Colorido
Às vezes me dá vontade de não voltar. De não voltar pra realidade, de não retornar para aquilo que deveria ser o meu lugar…às vezes dá a impressão de que aquele lugar para o qual eu deveria voltar é apenas uma lembrança vaga, nada mais existe, tudo mudou, todos mudaram, é como se tudo que eu entendia como sendo conhecido agora fosse apenas um sonho e que a minha viagem atual, que é um sonho, fosse a verdadeira realidade. E o pior, ou o melhor de tudo é que eu sei que é assim mesmo ! As vezes não dá a menor vontade de aterrissar. Não faz o menor sentido aterrissar. Não dá nenhuma vontade de assistir os sonhos que agora são reais se desmancharem na paleta de cores desmaiadas que é oferecida pelo mundo fantasioso que se insiste em chamar de real. Lá fora, lá longe, lá atrás, no que se chamava “normalidade” o mundo se debate e vocifera nas possibilidades precárias do embate bruto das leituras possíveis dos sonhos de cada um, e eu me sinto um nada, nadando, desesperado num mar se impossibilidades e de naufrágios…Aqui, não. Aqui, no conforto da minha estaçãozinha de trabalho, eu viajo no meu sonho. Aqui tudo é possível, não se esfarela e não se desmorona como lá, na chamada “realidade”. Aqui, está o meu sonho grandioso e íntegro, amadurecido de dentro pra fora num processo de qualidade total e compromisso com a minha essência mais profunda. Aqui, o produto do meu sonho parece completamente plausível, o meu voo não tem amarras, minha poesia não conhece limites, a beleza, a delicadeza e a sutileza são plenamente possíveis e realizáveis. Lá, naquele absurdo que um dia chamaram de realidade, o buraco é mais embaixo. Sempre o buraco mais embaixo. Lá, a incompreensão e a mediocridade vão sempre se contrapor a tudo de mais nobre que eu sonhasse. O “sucesso” é como um rato que você precisa matar. E você não pode deixar um buraco, uma fresta, um ralo sequer que sirva de escape para esse rato fugir. Se houver uma mísera falha no reboco da parede, esse rato desgraçado chamado “êxito” escapará. Aqui, na minha “estaçãozinha de trabalho, eu consigo engendrar um mundo novo, onde cada idéia, cada criação vai crescendo, vai crescendo, vai tomando forma, desabrochando como um milagre que me faz reviver a cada instante… Aí, quando eu estou no auge da minha empolgação, entusiasmado com a minha capacidade de ser criador, eu começo a pensar na interação que existirá dessas maravilhas que eu estou criando com tudo aquilo que eu deixei lá atrás, no momento em que decolei para a minha viagem desbravadora, tudo aquilo que ficou lá no chão duro da “realidade”, todos os meios e veículos de acesso que farão de tudo para impedir que os meus sonhos se espalhem e consigam transformar o mundo… aí começa o meu pesadelo. Porque o mundo não quer ser transformado. Porque o mundo faz de tudo para insistir na sua feiura e mediocridade. Aí eu lembro que vou me encontrar com todas as formas de corrupção e de deliberada incompreensão, porque o mundo tem uma natureza má, e que essa natureza perversa só é vencida com muita dificuldade pelos sonhadores que viveram voando como eu. Aí eu lembro que, se dependesse do que sempre foi “normal” para o mundo, todos os delirantes e sonhadores da História teriam desistido dessa mania de criar o novo. Quando eu lembro de todas as formas de corrupção que os meus sonhos vão encontrar pela frente, quando eu lembro de todos os obstáculos propositais que farão de tudo para impedir que os devaneios de todos os sonhadores possam frutificar, eu tenho vontade de entrar de novo no meu casulo da minha estaçãozinha de trabalho, onde tudo é possível. Será que eu sou normal ao enxergar colorido ? Será que as pessoas como eu precisam de um tratamento para voltarem a enxergar só em escala de cinza ? Ou a vida é assim mesmo ?