Meu Mundo e Nada Mais

Em 76, nos primeiros trabalhos, ficava claro o quanto eu já vinha com estranhamento em relação ao “Show Business”. Tudo o que eu queria era apenas compartilhar minha angústia, minha enorme solidão, numa estética, numa ética, muito particulares. No fundo, era como hoje ainda consigo ser, um enigma: Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto, à meia-noite, à meia-luz, sonhando, daria tudo por meu mundo e nada mais. Já era um manifesto, em si. Não teria ternos cintilantes, óculos-de-borboleta (como quiseram na capa, mas eu pulei fora ..), nem atitudes de auto-indulgência na vaidade canastrona. Nada. Lutei bravamente durante quase meio século, atravessando todo tipo de cobranças e “decepções” desse “Show Business” que me queria “entertainer” e eu nunca me entreguei. E até mesmo alguns meses antes, no festival de Iacanga, com o meu Moto Perpétuo, diante da “realidade bruta” da cobrança de “performar para agradar”, logo enxerguei contra exatamente o que John Lennon havia se rebelado porque era basicamente um rebelde e suas letras são confessionais e são obras de Arte, a maioria fugindo do “divertissement” tão apreciado pelo mundo histriônico e frenético do “hype” artificioso. Com apenas 22 anos, eu podia não saber exatamennte o que eu queria, mas sabia perfeitamente “em que” eu não queria me transformar.
Estou aqui, sei que o tempo passou. E não faz mal se trago a mesma angustia, porque também para mim não faz a menor diferença se o mundo, com todos os seus “hypes” artificiosos e suas mentiras de sempre, continua exatamente o mesmo, ou pior.
É como se, ao menos moralmente, no espírito, o tempo não houvesse passado.