Epifania da Vida Eterna

Ontem, vendo um debate no Canal Curta ( aliás um canal que frequento porque é ótimo – uma raridade…) de repente me veio uma “sensação reveladora” . Adoro “sensações reveladoras” porque são involuntárias e geralmente revolucionárias…

De repente,  num relance, num flash , me veio uma foto do que seria uma outra realidade que nós ignoramos ( ou fazemos de conta que ignoramos )

…e se a tão decantada “Vida Eterna” , tão preciosa para a construção daquela estrutura luxuosa, a elaboração daquilo que nos acostumamos a chamar de “Religião” … fosse nada mais do que a mera representação de nossa precariedade infinitesimal ?

Eu vivo me perguntando, diante de um Cemitério : “O que está ali ?” “O que é aquilo ?” … me perguntando diante de um Templo : “Quem mora ali ?”   … “Mas não está em toda parte ?” , “Então o que habita naquele lugar ?” , “Aquelas torres buscam o que ?”  “Aqueles sinos chamam para onde ?”  “Aqueles altares oferecem o que ? e para Quem ?”

Mas não me chamem de ímpio, porque Creio.

Tenho o direito de Crer do jeito que eu quiser.

E a minha Crença é profundíssima, no Mistério.  E a minha Crença no Mistério já é , em si, uma Revelação. A Minha Revelação,

e que não É de Ninguém mais. Porque Creio na Santidade do Desapego.

… e se a “Vida Eterna” fosse mais uma prisão inventada pela própria perversidade humana ?  Para que, realmente, Vida Eterna ? Para a nossa Vaidade ?  … e se ao morrer, simplesmente, de morte morrida, estivéssemos libertos de fato ? Sem continuação ? Algum problema em não ter Continuação ? Porque e Vida teria que ser um Seriado ? Com os Próximos Capítulos ? E se morressemos sem nenhum compromisso de coisíssima nenhuma além desta vida tão temporã, de carne-e-osso, tão real e concreta quanto as vidas das conchinhas do mar, das algas, das medusas, das borboletas e lagartixas, das pulgas, dos mosquitos, das bananas e figos, de cada gão de trigo filho do mesmo Universo Criador, e nada, nada além dos cães tão sentimentais, dos gatos tão sensíveis, dos queridos chipanzés, das formigas tão militares, dos falcões e águias mais arrojados, dos golfinhos mais perceptivos, dos bichos-preguiça meditativos, dos chipanzés quase humanos, de toda a sensacional variedade da vida na Terra, uma bênção do Universo à qual simplesmente faríamos parte, miraculosamente pertencentes a uma biosfera raríssima e preciosa… ?

… e que tal estarmos livres de qualquer estrutura hierárquica ?

Não seria a promessa da VIda Eterna uma condenação ?  Porque tanto apego à Permanência ?  Permanecer porque? Para que ? Para a glória de que mistificação criada por nossa pretensão ? E ainda à nossa semelhança ? Mas isto não seria uma concepção absolutamente “caipira” ? Somos suburbanos do Universo ? A quem beneficia a idéia de um Plano especial para a Espécie Humana ? Precisamos disso ?  Em nome disso, quanta água já passou debaixo da ponte das mazelas da Humanidade ?

A  idéia da morte como LIbertação é perfeita. Teriámos realmente que ir para algum lugar ? Esta vida prodigiosa na Terra não nos basta ? Que história mal contada é essa de um tribunal celeste ?  E mesmo que tivéssemos nossas contas aprovadas pela Comissão de Sindicância , qual monotonia eterna de platitudes e prazeres-sem-fim nos aguarda ?

Não seria isto uma idéia ridícula ?

Não me levem a mal pelas perguntas.

Nâo são heréticas, eu juro.  Perguntar não ofende. Sei que fui concebido assim mesmo, perguntador, e o Universo gosta disso, eu confesso,

Confesso até que perguntar é o meu segredo.

Porque o Universo não está aí para ser respondido. Só Perguntado.

Esse é o Princípio do meu Respeito.