Gravida em 1982

Tanta coisa feita com amor…
Durará para sempre .
Estava nascendo o Gabriel, meu segundo filho.
O som do (hoje raríssimo) Voyetra 8, incrível, me dá um “troço na garganta” quando eu escuto de novo…
Programado com carinho por mim mesmo, e pensar que essa raridade inacreditável está hoje inexpugnável, totalmente 100% operacional, manutenção feita em NY pelo chefe da fábrica da Voyetra, meu amigo pessoal…Pete Lanzilotta…
Fui um dos primeiros clientes da Voyetra, ainda com o dono Steve Bonanno, numa fabriqueta na Broadway, depois mudaram para Pelham e mais tarde para Yonkers …no inicio, (na época desse disco Ligação eu toquei “na mão” mesmo, com o teclado VPK5, meio “marciano” com joystick )…nem MIDI tinha, o MIDI protocol chegaria só no REV4 ,no ano seguinte, em 1984, por conta disso perdi o mês de julho de 1984 sem fazer nada na ilha de Manhattan … esperando ficar pronto…
Mas valeu a temporada em NY pois naquele “ócio” eu compus “Olhos Vermelhos” que abriria o disco de 85…
O meu Voyetra, um dos poucos exemplares no mundo, ( New Order, Depeche Mode, Duran Duran, Guilherme Arantes, Eurythmics, Suzanne Ciani, Stevie Wonder e alguns outros privilegiados ) vale uma fortuna hoje.
Ali não tinha mentira, analogicaço, amor de um tempo que o digital nem mais se lembra.

Chorei agora.
Pelo privilégio que é viver sem mentiras.

Meteoros

Tenho orgulho do tanto que fiz com amor…

E que o mundo sutilmente, suavemente,  carinhosamente obscureceu por preferir outras pérolas promovidas pelo marketing… não faz mal .

Nem todos os poemas dos Drummonds do mundo são “E agora?, José ? “, e nem “No meio do Caminho tinha uma Pedra” …

Nem todos os dias são de Eclipse Total .

Nem de Reveillon.

Nem de goleada na Copa do Mundo.

Nem todas as nossas pizzas são de Mussarela ou Calabresa, preferencias óbvias e absolutas do mundo no nosso cardápio de vida…

Nem todas as nossas canções são hits.

Todas as pedras da nossa pirâmide são igualmente importantes.

Algumas Pedras no Meio do Caminho viverão misteriosamente lá no interior obscuro e escondido no corpo e na base da Pirâmide.

E a nossa Pirâmide se erguerá e durará milênios por causa delas.

Se o meu caminho já estava (bem)  traçado em independência criativa, para vôos peculiares e extremamente pessoais, uma antecipação do que sou hoje. Eu não sou saudade de um passado glorioso. Eu estava lá, nesse video, como estou aqui nas viagens do meu presente… Adorei fazer minha trip concebendo meus proprios videos, minha primeira edição, ainda em textura de Hi8 com minha Canon L2…

https://vimeo.com/76267432

O Sono Reparador

Me conforta lembrar de quando eu era menino,
Deitar no quarto das férias,
cansado da praia, das pescarias, do futebol, ou dos rolimãs e pipas no interior calorento…
O cheirinho da palha do colchão, as cigarras chiando alto nas mangueiras, com seu cheiro da resina pegajosa das mangas, o apito da araraquarense ou o rugido das ondas distantes do mar… o cheiro do spray do litoral… os aromas, sempre os aromas do afeto !
E o bolo da vovó, no forno ? O assado alvissareiro do Natal… Qualquer simples aroma naquela hora, era ouro puro para eu adormecer…feliz.
O sono da criança. Uma infância, uma juventude simples no Brasil…parece um sonho..
E acordar horas depois, novinho em folha…
Hoje me conforta essa lembrança, como se, ao acordar, eu pudesse estar, outra vez, novinho em folha…
Mas é só ilusão.
Sei que, ao acordar, vou logo me tocar de que não me restaurei naquele sono suave, volto a perceber minhas dores e limitações de quem não voltará a estar novinho em folha.
Mas a sensação da simples lembrança desse adormecer…já me conforta.
A vida é isso.
Sempre haverá uma ilusão de um recomeço.
Na verdade, não há recomeço nenhum porque nada volta… sempre será uma retomada do caminho.
Sempre em frente.
Fecho os olhos então, e vou de encontro com minha essencia restaurada, porque o universo que a minha alma fabrica estará sempre novinho em folha.

Olhar sobre 2023

Quero agradecer a 2023 por me permitir aprimorar a minha, a nossa presença neste mundo.
Às vezes um tempo pode nos parecer pouco realizador e de “baixa produtividade”, mas é uma percepção limitada por uma visão tendenciosa, viciosa, do construtivismo pragmático.
Nem todos os trechos de uma órbita são de alta velocidade, como os chamados periélios. Mas todos os trechos de uma trajetória são igualmente importantes.
Lembro de uma letra de uma canção , em que eu escrevi que “grandes revoluções acontecem lentamente, silenciosamente…”
Feliz 2024, com todos os desafios.
Há que ter coragem para ser humano.
Não é pouca coisa ser humano.
Todos os seres humanos, mesmo os que nos parecem equivocados, ou vivendo o que nos soa como uma existencia vazia e sem sentido.
Fecho os olhos para interiorizar profundamente, dentro do santuário que mora lá no meu interior sagrado…. essa benção para o mundo.
Porque é lá que o Universo é criado.
Que todos percebam essa Natureza Secreta em si mesmos. Não está em nenhum lugar especifico, porque está em toda parte, e especialmente dentro da Consciência Milagrosa.
Desejo, acima de tudo, respeito pela diversidade das pessoas, desejo convivência prazerosa aos diferentes, um lugar ao sol para que todos possam brilhar.
Desejo a tolerância para que todos possam sonhar, desejo as inspirações para que sejam superadas as limitações estruturais do pensamento e as armadilhas das sociedades humanas.
Vejamos quantos avanços nos alcançaram nos ultimos tempos, permitindo um tempo maior e uma qualidade melhor para nossas vidas, apesar da decadência estética que a humanidade tem apresentado de uma maneira geral, questionável.
Mas nem tudo está perdido.
Vamos que vamos .
Aos trancos e barrancos, de roldão, nesse forno crescente, nesse torvelinho inexorável de total insanidade eletrônica, nessa cultura de massas caricatamente horrorosa, enfim, sabe-se lá onde é que iremos parar… mas apesar de tudo, o que nos mantém amarrados uns aos outros talvez ainda seja o amor e a esperança, então Feliz 2024.

Oração para 2024

Oração para 2024
Que eu possa atravessar incólume.
Que eu possa não me contaminar, ou ao menos me tornar o mais possível imune ao algoritmo totalitário desta Era.
Que eu não me deixe fisgar pela tentação do “click bait” , nem de usar esse artifício maligno para existir virtualmente, e nem de ser usado por ele : que eu consiga manter a sanidade do pensamento próprio, que é inimigo mortal do Sistema de Controle.
Que eu continue a ter a santa náusea repelidora diante da bizarrice, do escândalo, da baixaria, da polêmica, das provocações, da intolerância e preconceito, das caricaturas do radicalismo, dos truques e mandingas da ideologia,
Que eu possa dizer para mim mesmo :
Sim, eu existo, e posso ser singular, posso mais e mais me transformar num enigma inexpugnável.
E não ser uma mera colcha de retalhos alinhavada pelo coletivo monstruoso que me cerca, não ser uma obra grotesca do subconsciente do enxame, da patologia da alcatéia, da neurose repugnante do cardume, e da truculência da manada.
Sim, eu existo, e posso ser singular, posso mais e mais me transformar num enigma inexpugnável.
Que eu possa seguir um caminho ditado pela intuição pura e plena, sabendo ficar alerta contra as facilidades vantajosas da esperteza primitiva, enganosa e enganadora como o sibilar da serpente que insiste em nos sugerir o atalho da perversão. Que isso, sim, seja ficar mais esperto, porque a perversão tem “pés de barro”, tem “asas de cera”, e se por um momento a perversão nos premia com as glórias da aclamação e do poder, mais cedo ou mais tarde a casa cai. Que a minha casa seja humilde e simples, mas com os alicerces firmes e justos fincados na labuta constante e contínua do dia a dia, sem parar para ficar mirando o céu inatingível da ilusão. Que eu possa fincar o meu olhar na enxada do chão, sabendo que do Céu existe uma instância maior para Cuidar.
Que eu esfregue as mãos de alegria, simplesmente porque tenho muito o que fazer !
Obrigado 2024 pelo desafio que é viver !

Vencer a Dor

Eu sei que vou conseguir vencer.
Sei que vou emergir mais forte lá do outro lado da dor.
Sei que o meu sonho não vai morrer .
Sei que, neste mundo, por mais que não pareça, ainda existe um lugar para mim, por mais deslocado e perdido no tempo que eu possa me sentir.
Sei que para o mundo ainda tenho muito o que oferecer, o meu amor, a minha arte.
Sei que meu espirito conciliador e solidário prevalecerá.
Sei que minha música ainda soará bonita e que haverá pessoas interessadas em ouvir.
Sei que muita gente dá importancia para a minha luta, mesmo que os louros estejam sempre na cabeça dos mais espertos.
Sei que os sofrimentos terão fim uma hora.
Sei que minhas aflições, meu desespero, darão lugar à esperança e ao sorriso.
Sei que a minha luta nào será, jamais, nem por um momento, em vão.
Sei que minha teimosia em não me render à barbárie ainda valerá a pena.
Sei que não precisarei vender minha alma para obter sucesso nos meus sonhos.
Sei que não vou precisar tirar a roupa e prostituir a minha imagem para chamar a atenção no Algoritmo.
Sei que não vou precisar fazer coisas chocantes e vulgares para ser notado no reino da perversão.
Sei que não vou fazer coisas erradas e feias para ficar rico, porque tenho a minha varinha de condão, a Verdade que anda comigo, que me Salvou e me Salvará.
Sei que ainda vou voltar a rir o meu riso largo e aberto, que um dia me fez conquistar uma coleção de amigos de verdade.
Eu sei que vou sobreviver.
Eu sei que vou conseguir.
Eu sei.

Sao Paulo 2024

São Paulo.
Minha metrópole querida, hoje faz aniversário…
Minha raiz tão heterogênea, paradoxal, te cantei em versos tantas vezes, te carrego comigo como um acervo de cosmopolitismo extremo.
Falar de extremos é lembrar seus esplendores e seus lados dramáticos também, seus desafios sociais, a crueldade da sua metamorfose constante, irrefreável, compulsória.
Minha São Paulo que mora em mim , mas que não existe mais, do bonde, do Mappin, da Leiteria Ipiranga, das bolachas Aymoré na Praça do Patriarca, da Casa Fretin, da Di Giorgio, da Sönksen, do Fasano, do Pandoro, da Cantina do Povo no Largo da Batata, da Salada Paulista na Ipiranga, do Yara na Augusta, do Bambi, do cine Art Palacio, do Belas Artes, do Majestic, do Bijou, da Livraria Cultura, da Livraria Francesa na Barão, tudo isso ainda convive no meu coração com a São Paulo múltipla e inclusiva que não morre jamais, e que renasce com novos nomes, novas idéias e novas modas, para todas as novas tribos e costumes, a força de São Paulo está na eterna transformação e agregação do antigo com o moderno .
Adoro viajar, me mudar, desbravar, me aventurar por este mundão de meu Deus…
Mas adoro sempre que volto pra você !
Parabéns São Paulo, em matéria de cidade dinâmica, você é o máximo

Carnavais e Festivais- A Praça de Alimentação

Acompanho, de longe, a escalada dos carnavais, a escalada dos festivais, a coletivização compulsória, a desindividuação,
a insana praça de alimentação com seus aromas e temperos todos misturados, orégano com shoyu, frango frito e hamburger com dendê, sei que tudo é antropofágico, é divino e maravilhoso, mas também sei que eu não pertenço ali, sou um outsider, talvez eu seja apenas mais um chato parnasiano gongorista, sem samba no pé, sem tirar o pé do chão, hoje mais do que nunca, operado e sem cinturinha de mola, um dissidente da multidão divertida, não sei quem sou ali, onde todo meu bairro poético se transforma num lamaçal da urina que transborda dos mitórios químicos, as montanhas de garrafas de gin da playboyzada se confundindo com as ilhas oceânicas de garrafas pet, com os batalhões de multidões de desvalidos amassadores de latas de cerveja sem lúpulo nem malte, que brotarão da madrugada ressaquenta quando a zoada dos geradores se for, a zoada dos palcos móveis de andaimes se for, a zoada dos blocos e das bandas silenciarem sua alegria de plástico, neon e fantasia do absurdo feérico do qual sou degredado desgarrado, um eterno ausente esquecido por não ter serventia. Obsoleto na minha irritante razoabilidade plausível. O mundo prefere o nonsense. “Stop making sense”. Amo ardentemente a “multidão transgressora” da mesma forma que violentamente a rejeito com uma náusea tóxica. Quando tudo quer transgredir, a transgressão é conservadora e reacionária porque obrigatória. Vejo os bairros poéticos que um dia amei, por onde um dia andei ouvindo meus passos na calçada, onde deixei um pedacinho de mim, se transformando num campo de batalha da violência, da truculência, da inconsciência prazerosa da dor transmutada em esgares de sorrisos e caricaturas de antigos pierrôs e colombinas que já morreram nos desfiles de almas penadas e mortos-vivos sem graça, sem beleza e nem espírito do que foi um dia a minha mais pura fantasia de pirata, agora sem confete ou serpentina, só o imenso ribombo do éter ecoando seu feedback na cabeça. Estamos num tempo em que a carnavalização desalmada toma conta do mundo, e em especial do país, o ano inteiro, em trezentos festivais anuais de “música” imersivos em experiências holísticas com a mistureba de aromas e sabores da grande praça de alimentação de uma humanidade perdida no pesadelo enclausurante de um grande navio temático com suas marcas patrocinadoras e suas chancelas globalizadas, um pesadelo de bizarrias e ostentações. Sou um simples humano, um humano simples como os ribeirinhos, como os animaizinhos assustados e toda a natureza silenciosa e incrédula dos poetas e dos angustiados assistindo curiosos a passagem desse imenso transatlantico feérico da grande festa que desce o silencioso rio veloz, rumo a uma gigantesca catarata que espera e desaba rio adiante, o mundo quer ser uma só sagaz alegria, mas é só uma fugaz alegoria, estou agitado, parece que é um sonho, parece que foi apenas um pesadelo, então é de madrugada, deixa pra lá a alegria/alegoria alheia, deixo tudo existir como quiser, sem julgamento, que não sou ninguém para condenar nada, deixa a humanidade ser e existir como quiser, como preferir, já que apenas existir já não é pouco, e já não é pouco absurdo simplesmente ser, então viro de lado e procuro de novo dormir em paz porque amanhã será um lindo dia.

Feliz 2024 e Sentimento Espiritual

Fecho o ano de 2023 com algumas revelações pessoais de um mistério que preciso urgentemente compartilhar.
No último “post” derivei pelo terreno da Dor, porque este período que começa agora a se encerrar foi justamente regido por esse substantivo transformador.
Dor, um Substantivo TransformaDor.
Quero falar da Libertação do Ser. Celebrar isto.
Volto ao tema dos meus muitos milagres pessoais, dos quais posso e devo testemunhar, sendo que alguns me comprometí a propagar, contrapartida em vários Livramentos dramáticos de que fui beneficiário.
Todos nós precisamos prestar mais atenção no nosso cotidiano, na nossa biografia repleta de episódios inexplicáveis de superação de grandes desastres.
Olhemos e reconheçamos nossa própria capacidade de sermos antenas de milagres.
Quem é meu fã e tem ido aos shows tem acompanhado esse processo de cumprimento da minha Palavra empenhada em cada episódio no qual eu sobrevivi.
Sou sobrevivente: e vocês também.
A Palavra não se encontra em nenhum lugar, e nem contida na íntegra em nenhum Livro.
O que chamam de Escritura sempre foi, é e sempre será uma representação gráfica, que acho particularmente belíssima, mas sempre um espelho através do qual a nossa humanidade é capaz de enxergar o indizível, o insondável ( uma vez que esse Indizível, Insondável, não conseguimos visualizar a seco, sem nenhum instrumento para tal )
Me refiro à Palavra que está inscrita dentro de cada um, e dentro de todos nós.
A Libertação a que me refiro é um fato corriqueiro de que todos carregamos dentro do Ser a nossa “cota de santidade”.
Essa é a “sensação” que me veio involuntariamente iluminar, com o tempo, a cada ano que passa, com maior clareza.
Não depende da nossa vontade sermos Santos.
Depende do nosso Sentimento.
É muito mais profundo do que a Vontade.
Não é uma tese, nem religiosa, nem teológica, nem erudita, nem intelectual, nem mesmo minimamente elaborada para ser um raciocínio.
Pertence ao “campo das sensações”.
É, e deve mesmo ser, um “Sentimento” e assim permanecer.
É preciso assumir profundamente essa realidade.
Somos Guardiões dessa preciosidade, onde a mente, o ego, onde nem mesmo a “ambição da grandeza” e nem a ilusão da Permanência ou a presunção da miragem de qualquer Imortalidade ousam adentrar !
Não interessa a Imortalidade.
Numa boa, quem é que precisa ser Imortal ?
Para que viver eternamente ?
Não cabe, tampouco a Grandeza.
Para que atingir um tamanho descomunal, subir em Hierarquia. ?
O Sentimento Espiritual é desapegado de qualquer Presunção de Promessa, porque é uma aquisição em Si. Basta-Se.
Aprendi que “Temos todos uma cota de Divindade em nós, temos potenciais de santidade em diferentes medidas de percepção”.
E essa percepção FABRICA A REALIDADE, é uma poderosa usina inesgotável de milagres, de que são feitos todos os dias de nossas vidas.
Eu não QUIS que fosse assim.
Eu aceitei que é assim.
A Religião constrói dessa realidade os seus Palácios Suntuosos da Infinita Dúvida Humana.
Já conheci praticamente todos os tipos de Templos, com todos os estilos de construção, todas as modalidades de ornamentação e liturgia.
Tive várias vezes episódios de revelação, e nisso os Templos funcionam como catalisadores. Em capelas simples, campesinas, em locais de peregrinações, Belém, Fátima, Compostela, em Catedrais Monumentais em Londres, Milão, Nova Iorque, Madrid, em Templos no Japão, diante dos mistérios do Budismo, do Xintoísmo, em Sinagogas, na Mesquitas, acho mesmo essa coisa toda fascinante e irresistivelmente atraente para mim.
Todos, sem exceção, me causam admiração, vejo beleza até sublime, mas sempre muitas perguntas permanecem sem resposta.
As Artes, também se encarregaram de levar essa Construção do Divino até às últimas consequências, num acervo magnífico do que de melhor a Humanidade é capaz em representação do Divino.
Quem seriamos nós para questionar a validade de Bach, de Gounod, Schubert, Haendel, de tantos gênios da Inspiração ?
Como poderíamos relativizar Michelangelo , Da Vinci , Rafael, Velazquez, sem reconhecer que naquelas manifestações da Beleza se comunica o Sentimento e se torna real a Santidade ?
Mesmo assim, as perguntas sempre estarão sem resposta.
Algumas são muito palpáveis e recorrentes no dia a dia.
Quando estamos diante de um Templo, nos perguntamos :
” O Que está aí ?”
” Quem Mora nesse lugar?”
” O Que está depositado ali nesse monumento?”
” Porque construímos esse tipo de Monumento ?”
“Porque precisamos acreditar numa Obra Divina para a qual somos convocados a colaborar ?”
Chegamos à percepção de que a crença pode ser virtuosa e nobre, mas não é tão grandiosa quanto o Sentimento.
Essa é a finalidade positiva da Arquitetura e das Artes sacras:
Funcionarem com gatilhos para a eclosão do Sentimento.
A crença pura e simples, desprovida do Sentimento, é uma mera elaboração do raciocínio.
Eu diria mais : o Sentimento é basal. A crença é acessória.
A crença é um Ornamento da Fé.
A Religião é um edifício que se ergue sobre a Crença.
Onde eu pretendia chegar com este “papo todo” de final de ano é que :
Vamos nos alegrar, porque a Boa Nova, a Mensagem tantas vezes anunciada, por todas as vertentes da Fé, seria esta :
O Sentimento Espiritual está ao alcance de todos.
Que cada um se dê ao direito de, através do Sentimento Espiritual, fazer o seu Deus sorrir, porque o que Ele MAIS ALMEJA de cada um é o seu Sentimento.
(Interessante o verbo que usei aqui, “almejar” …)
Que cada um reconheça o seu Ser, e seja seu Guardião.
Feliz Natal, Feliz Ano Novo !

Sobre John no Sofá

Esta é a melhor parte do que nós escolhemos como vocação : criar músicas, escrever letras, procurar coisas dentro de nós que possam de certa forma mudar o mundo – mas esse potencial de mudança não significa exatamente conquistar números ou construir impérios materiais…
É um métier , um dharma muito mais sutil.
Já o triunfante “Show Business” quase sempre se constitui num engodo.
É uma resposta social, algo que tantas vezes envolve vaidade, mentira, empulhação, manipulação, oportunismo, a gratuidade canastrona na resposta intencional, articulada, ausente de qualquer essencia, já que a essencia se constitui no territorio intuitivo, subjetivo.e até involuntário ! Isto é um mistério para os tolos que triunfam no território objetivo do pragmatismo !
Ser artista não é necessariamente lidar com a fama, o sucesso, a celebridade,
Nisso, nós somos parecidos e rebeldes.
Muitas vezes há uma incompreensão diante dessa nossa rebeldia …
É no nosso “ócio misterioso” que são garimpadas as pepitas gigantes…