Tudo segue como alegoria

Tudo aquilo que parece relevante num determinado momento, no momento seguinte já aparece como alegoria caricata, histriônica, eis a nossa característica básica. É cultural, identitário, uma espécie de maldição. Tudo se consuma numa geléia-geral amorfa e insípida, sem arestas e sem gume de transformação ou clivagem histórica.
Uma geléia cinzenta fagocitando vidas, sonhos, corpos e almas, temporadas, modas, décadas e gerações. Tudo indo pelo ralo. Personagens e símbolos significativos de um “agora”… se convertendo logo a seguir em páginas viradas de uma pantomima bufa, devidamente absorvidos como mero folclore, fantasia supérflua, sem a menor expressão, rumo ao mais estúpido esquecimento : eis o nosso método recorrente e tão peculiar de sermos “transgressores” e nos acharmos diferentes pela esperteza escorregadia: matar os movimentos transformadores pela aniquilação da memória . Tudo esquecidamente confortável, e a roda da História embrutecida no torpor do hedonismo inexorável, o nosso individualismo mais primitivo. Tudo por aqui segue esse padrão, essa saga, de trambolhão, gororoba de caráter bruto, ignorante, virando passado a cada dia mais rápido, atulhando o tempo histórico com camadas sucessivas de personagens e seus discursos inúteis.
Assim somos nós. Não somos nada.
No final, só o amor ficou. O restante virou pó.