Piano Solos

um dos trabalhos mais revolucionarios e reveladores de toda a minha trajetoria de compositor é o disco Piano Solos, que foi originalmente chamado de New Classical Piano Solos, um denso conjunto de temas instrumentais que comecei a conceber em Londres, na década de 90 e que foi lançado em 2000 com um concerto na legendária Steinway Hall, da Rua 57 em NY, uma sala secular onde tocaram todos os grandes pianistas do Século 20 … e que já não existe mais… mas que também pertence à minha história…
A Steinway mudou- se para um novo endereço, ( 1133 6th Avenue) vale a pena visitar.
São meus amigos para sempre !
Nessa data, 11 de Julho de 2000, a Steinway & Sons me proporcionou uma experiencia inesquecível, com o Modelo D que pertencera a Wladimir Horowitz …Toquei esse repertório junto com um ensemble camerístico de professores titulares da Juilliard School …
Que aventura !
Eu já andava triste com a eterna, constante obsolescencia proporcionada pelo Brasil, naquela década dificil com um recrudescimento do “entretenimento de marketing” que viria a dominar o mercado .
( e eu nem imaginava onde é que isso iria parar … )
Eu pensava em me abrigar numa carreira de instrumentista, desistindo de cantar…
Eu achava que tudo já havia enchido o saco …
… isso tudo há 23 anos atrás…
É um album muito lindo, que me dá um orgulho danado de ter concebido e realizado sozinho…
quem se diz meu fã, tem que conhecer …
está nas plataformas digitais .

A antena de cada um

hoje eu entendo
e consigo ver que as pessoas são como rádios, transmissores e receptores .
O fato de não terem certas modalidades de antena…
para captar ou transmitir certas mensagens em certas frequencias …
não significa que essas frequencias não existam no Universo …
ou que certas mensagens no mundo devam ser ignoradas … simplesmente porque passam desapercebidas para essas pessoas .
é por isso que as pessoas são tão variadas em suas percepções, suas sensibilidades, e, por conseguinte, em suas possibilidades e limitações …

Sucesso Fake

Sucesso .
Ainda bem que eu sempre fui muito arisco com esse tema… nunca dei muita corda pra essa palavra…hoje tão maltratada, tadinha …
Mais do que nunca, está uma palavra com a qual eu tomo o maior cuidado , a maior cautela , e da qual eu desvinculo qualquer conceito de felicidade !!!!!
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era tocar a música nos saraus da aristocracia …
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era ter uma marchinha tocando nas ruas do Carnaval.
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era levar multidões para o Largo da Concórdia, em shows de Rádio AM .
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era estar em trilhas de Musicais do Cinema .
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era tocar nos shows dos Cassinos …
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era tocar nos Auditórios das Rádios , como a Rádio Nacional …
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era ser aplaudido pelas elites, nos Piano-Bares elegantes da Capital da República , quando o Jogo foi proibido no País…
Pouco depois, houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era tocar nos Musicais da Televisão , herdados da Era do Rádio …
Nos Anos 60, com a TV ensaiando transmitir em Rede Nacional , houve então uma época de Ouro , não muito distante, em que fazer sucesso era competir nos Festivais, então muitas das músicas que ganhavam as platéias eram estruturadas para levar a um “clímax” acelerado, com final abrupto e repentino ” quem me dera agora tivesse a viola pra cantar! ” “nas voltas do meu coração” …
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era fazer a multidão cantar contra a opressão .
Logo a seguir, veio uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era compor e ter musica em inglês tocando em trilha de novela …
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era fazer a multidão chorar em coro, em celebração da melancolia …
Depois , veio uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era fazer o público lembrar que o país era um país jovem, numa terra ensolarada e transgressora …
Houve uma época, não muito distante, em que fazer sucesso era ter um produto adaptado e utilitário para funcionar em grandes eventos coletivos de show business …
Aí veio uma época, não muito distante, em que fazer sucesso passaria a ser simplesmente vender a festa, fazer divertir .
Enfim, a competiçao sempre foi de quem fazia a canção mais bonita , ou ” a melhor canção”.
Assim sempre foi um ítem qualitativo, para o bem ou para o mal …
Até que surgiria uma época , finalmente , em que fazer sucesso simplesmente não significaria mais nada de valor agregado : seria um atributo “em si mesmo”, absoluto e zero relativo a qualquer adjetivação.
Fazer sucesso pura e simplesmente, ora !
Faz sucesso porque é famoso .
É famoso porque faz sucesso . Simples assim.
Na era das Redes , não quer dizer mais nada.

Afetação

AFETAÇÃO
Estou pensando numa palavra, que define muito do comportamento em redes sociais, em palcos, em espaços públicos.
Tornou-se ítem obrigatório em todos os discursos de pautas, onde o empoderamento e a assertividade são mandatórios.
Tornou-se também denominador comum de nossas elites pensantes, encasteladas em seus feudos de pós verdade.
O que é a presunção de unanimidade ?
Pode ser o último recurso de quem está exposto perante o Coliseu do Julgamento .
Mas o Julgamento é falho , é humano, é frágil , é espúrio
O que é “se achar” e “si si ” , se sentir muito mais do que se é ?
Nem que seja para induzir a opinião manipulada ?
É.
ser influencer é ser afetado ?
Acreditar na própria beleza, na própria sensualidade, no próprio mito, é podre .
Construir um personagem de si próprio e passar a acreditar nele, é uma espécie de picaretagem mistificadora : vender uma coisa, nao quer dizer que a coisa exista .
Mas vender depende de acreditar … então eis uma farsa em si.
porque ?
prestem atençao, porque TODOS os que vendem algo neste mundo estão usando a AFETAÇÃO como arma de venda de convicção .
Os artistas estão afetados.
Quando são alçados pela industria pop aos postos de próximos “it boys” , “it girls” , se contaminam e viram uma caricatura de promessa.
E os políticos, então ?
Querem profissão mais aparafusada na afetação ?
A mim, a afetação não me engana.
É babaca e ponto final .
Tudo aquilo que “percebe uma resposta” do mundo, assume aquilo que percebe fabricando uma auto-imagem , e depois vende essa auto-imagem como se fosse a realidade , é mentira e sempre será .
A verdade , como se diz, do chão a cara não passa .
https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/afeta%C3%A7%C3%A

Acordar com um insight

Guilherme Arantes
Publicado por Guilherme Arantes ·
1 d
·
acordei tendo um insight claríssimo sobre o que realmente representa a pessoa “se aposentar”, “pendurar a chuteira”, “encerrar a carreira”, e outros termos que descrevem o eterno anseio interior de mudança…e o fechamento ilusório de um ciclo “produtivo” …
acompanho eternamente esses processos nos meus colegas e amigos, depois de uma faixa de idade, terem essas reflexões sobre o cansaço e sobre os efeitos desse cansaço sobre o futuro, quando são perguntados – ou quando se perguntam- se não está na hora de parar”…
é óbvio que o assunto também está sempre em pauta na minha alma, então vou elaborar aqui o meu insight porque isto também me ajudará muito a me entender melhor.
Hoje eu enxergo que sou um individuo muito peculiar, de muitos personagens .
Um deles é o mais remoto, se diverte em tocar o piano. Não se preocupa muito em ser virtuose, nem em competir e ter “performance atlética” no instrumento, é intuitivo, indisciplinado e indomável : é espirituoso e alegre, o seu núcleo de funcionamento é o prazer puro de um menino que senta ao piano e simplesmente ali ele esquece do mundo . É um fauno, um pequeno Deus, presunçoso e livre, eternamente feliz.
O segundo personagem, também antigo, remoto e emblematico da minha natureza, é um pequeno Geppetto . Um artesão dotado de mãos indomáveis e com vida própria : desenhista, escultor, pedreiro, encanador, marceneiro, eletricista, metalúrgico, mecanico, serralheiro, pintor, restaurador, relojoeiro, paneleiro, sapateiro, lustrador, tecnico eletronico, fotografo, projetista, decorador, tapeceiro, afinador de piano, etc. etc . tudo que mais a imaginação me trouxer de artesanias e serviços gerais : é completamente alucinado e tem vida própria , faz cagadas homéricas, se mete a balão em tudo que é tarefa,algumas vezes com resultados desastrosos, mas em compensação, inúmeras vezes com realizações magistrais, inacreditáveis . As vezes é um personagem cansado, às vezes fica triste com as mãos machucadas, o corpo sente e acusa a passagem do tempo, porque ele exige muito de si e percebe suas limitações .
O terceiro personagem é um pequeno poeta .
É um gnomo, um anãozinho falante, fugidio, em permanente estado de esgrima com as palavras, tem a compulsão de dizer, de pensar e de falar, porque as idéias vêm em borbotões de cordões encadeados e precisam sair para o papel . Somente isso : para o papel . Não é um bardo, porque não quer platéia, é tímido e retraído . Esse personagem é muito sazonal e arredio, é nômade, adora desaparecer e viajar para longe, sempre mais longe, para o desconhecido, para as regiões mais límbicas, crepusculares da alma. Totalmente desprovido de medo, não tem a menor noção do perigo, brinca sempre nas beiradas do precipício, e isso já me levou a estar por um triz de muitas tragédias, por eu estar sob o dominio desse gnomo irresponsável…É ele que me colocou tantas vezes em situações dificílimas de contornar, por falar demais e me jogar em confusões sem a menor necessidade. Mas ele também me trouxe grandes alegrias e realizações na vida e para o mundo à minha volta, porque materializou sentimentos em forma de versos, o que me deu asas para voar entre os astros para eu conhecer o Universo dos Mestres que eu mais admirava e que povoavam os livros que mudaram a minha vida …
O quarto personagem é um pequeno palhaço .
Na escola, era o que imitava os professores, arrancava gargalhadas da sala de aula, era exibido por natureza, era outro irresponsável que no Clube pulava do trampolim, rente à beirada da piscina , correndo risco de me deixar tetraplégico com um erro de milimetros no pulo, só para espirrar água nas meninas que tomavam sol : era um aqua-louco . Foi o mesmo personagem , quando estava meio mestiçado com o gnomo, que me levou até um muro de 6 metros de altura, tentando apanhar uma pipa no telhado do vizinho, e eu caí de costas batendo o cóccix e ficando realmente tetraplégico por algumas horas , só que Deus resolveu me levantar e seguir adiante , por puro livramento milagroso, que eu vivo a testemunhar … mas o palhaço-meio-gnomo nao estava nem aí, e me encarnava compulsivamente nas festinhas, sempre pronto para “entreter” e “brilhar”ao piano, tocando de ouvido todas as musicas do rádio e fazendo a família, a turma da faculdade, fazendo toda a humanidade possível à minha volta cantar… vaidoso, adorador do cinema, se espelhava nos seus ídolos para compor o seu figurino, sonhava ser o sonho dos corações sonhadores, e acreditava na beleza e no carisma para conquistar o mundo…Mas o palhaço também era um iludido, porque sempre vive acreditando que a verdade de si estaria no espelho de si apresentado pelo olhar dos outros humanos.
Sua questão basal é perguntar : “Hoje tem Marmelada ?”
Sempre vigilante, de olho na bilheteria do circo, é um escravo da “utilidade da arte” , esse é seu grande dilema : até quando aguentará ?
Mas seria um personagem indispensável na minha química, na composição da minha história, porque se não fosse por sua vaidade de se mostrar, de buscar o espelho dos olhos dos outros humanos, a aprovação do mundo, nem o menino pianista, nem o gnomo poeta teriam tido palco para virem à tona. …
Pois bem .
Quando penso nos temas “aposentadoria” , “penduração de chuteira” , na verdade eu encontro um vazio .
Não encontro nada ali : é mais outra miragem da vida .
No máximo, vou conseguir que passe a prevalecer algum outro personagem do meu elenco interior .
Pode passar a prevalecer em mim o Geppetto, por exemplo .
Combina mais com a minha nova idade ?
O Geppetto não é um velhinho muito feliz ?
Talvez sim, porque não ?
E se o gnomo pequeno poeta prevalecer por um tempo ? Algum problema em mim ?
O gnomo tem idade , afinal ?
Engana-se quem pensa que o palhaço, por ser mais famoso, por viver do espelho do mundo, é o mais importante dos quatro.
É só mais um, e é aquele que carrega o fardo de olhar a venda de ingressos e a lotação da platéia. As vezes, é ele que gostaria de se aposentar, porque carrega a cruz chamada “carreira” : nada mais ilusório .
O menino do piano, o Gepetto na sua oficina da vida , ou o duende dos poemas, nenhum deles jamais aceitou nenhuma cruz para carregar.
E o palhaço sempre será a inspiração para todos eles .
É por isso que pra mim não existe esse negocio de pendurar as chuteiras .
É só em cada época diferente trocar de personagem.
Com licença, que hoje o Geppetto precisa voltar para a oficina.
Porque o menino quer voltar para o piano .

Prioridades

Eu adoro a combinação da Melodia com a Harmonia, e a sincronicidade de ambas com a elaboração da Poesia…

Para o meu gosto, essa fórmula é fundamental para a Qualidade na Música Popular, que, por uma série de fatores, sempre foi a minha maior Prioridade como Ser Musical.

O jogo lúdico dos sons se revelou um Universo irresistível na minha história, uma chave identitária.

Tinha a ver, é óbvio, com a minha “nacionalidade brasileira”, com as Épocas de Ouro da Arte Musical do Brasil, principalmente por influência do meu pai, Gelson, médico brilhante e músico nato, ao violão, cavaquinho e bandolim, uma marca de sua família – muito especialmente o ramo dos Lima Verde, do Crato, no Ceará. De um modo geral, a matriz brasileira da Música Popular é uma árvore frondosa, de natureza basilarmente familiar, com os saraus e tertúlias musicais da Casa Brasileira fazendo as pontes sociais, raciais e culturais de um povo muito peculiar.

Desde menino, eu já identificava grande preocupação com a tríade Melodia/Harmonia/Poesia , ao “tirar de ouvido” as músicas ao piano, instrumento que chegou na sala da minha infância no ano de 1958, na Rua Baxiuva, bairro de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo.

“Tirar Música de Ouvido” , como o papai chamava a arte de tocar sem partitura, se revelou o meu maior Dom, um fator diferencial na escola, nas festas de família, festinhas do ginásio, bailinhos do Colégio, reuniões da Faculdade, e posteriormente, riquíssimo repertório para conjuntos e bandas, numa época em que isso foram sucessivas modas, do fox-trot, cool jazz, chorinho, do samba, do samba-canção, da Bossa Nova, da Jovem Guarda, do Tropicalismo, do Clube da Esquina, do Progressivo, dos Festivais, da MPB, e ali seguiria eu, e aqui estamos nós…Essa atividade se baseia no Amor pela Criação do Outro.  É um misto de admiração e desejo de decifrar o Universo Alheio.  É dos diversos níveis de “imitação” que nasce o talento de cada um. E assim, Toda a Beleza do Mundo !

Assim, por causa da admiração pela obra de inúmeros mestres, a minha geometria sempre girou na perspectiva dos três eixos, Melodia/Harmonia/Poesia.

Alguns perguntarão : Mas e o Ritmo ?  É claro que eu não me esqueci dele. Para mim, o Ritmo sempre foi uma espécie de “grid”, o quadriculado no papel onde a Beleza pretenderia se estabelecer…Mas, como vou desenvolver a seguir, o Ritmo é um caso à parte, porque além de ser um ponto-de partida, ao final, oferece “implicações comportamentais”, através do movimento do corpo, e aí entram outros componentes agregados ao “uso da beleza”, e a coisa se torna muito mais complexa, mais fascinante, porque o Ritmo geralmente dita a “primeira utilidade prática” da música. E cada época dita as suas Prioridades.

Hora de abrir parênteses…

É evidente que, por exemplo, a época atual não atribui prioridade alguma para a minha querida tríade “Melodia/Harmonia/Poesia”.  É uma pena, e para mim, que me criei como especialista, é absolutamente lamentável, chegando mesmo a ser insuportável sobreviver em meio ao suplício que nos bombardeia pelos meios coercitivos do Mercado.  O “Gosto da Maioria” . Um Mercado que em nossas infâncias e mocidades foi tão vasto de belezas e legados, então compartilhados por todas as faixas etárias e sociais, hoje chafurda numa maçaroca sem precedentes de lixo e reciclagem de lixo, um Desastre Cultural que, curiosamente, mas não por acaso, corre paralelo ao Armagedon Ambiental. Uma combinação perversa de “Minimalismo Modernoso” com “Ignorância Opcional Voluntária” gerou o ambiente lítero-musical de um século majoritariamente medíocre.  Um Horror !

Mas o que eu posso fazer ? Como vou viver ?

É preciso encarar a realidade : Prioridades.

Agora começa, propriamente, o nosso tema de hoje.

E paradoxalmente, aqui também o nosso tema termina.

Subitamente.

Cada Época tem as suas Prioridades. Cada Povo tem as suas Prioridades. Cada Grupo tem as suas Prioridades. Cada Pessoa tem as suas prioridades. E mais : Uma pessoa pode, por exemplo, pertencer a diversos Grupos diferentes, em cada Época de sua vida, o que torna extremamente mutante e movediça qualquer análise sobre o Mundo, a partir das preferências de uma simples Pessoa !

É por isso que eu desisto de julgar. É preciso fazer essa opção coerente. Opção interessante.

A Humanidade é um Formigueiro Diverso.

Não é um Universo, é um Multiverso.

Cada um faz o que acha melhor. E vive como acha mais bonito viver.

E, com licença, tenho muito ainda o que fazer.

Coisas para as quais eu nasci para fazer, e o Mundo, por mais que persevere, não pode fazer nada para impedir.

Fui !

Tudo segue como alegoria

Tudo aquilo que parece relevante num determinado momento, no momento seguinte já aparece como alegoria caricata, histriônica, eis a nossa característica básica. É cultural, identitário, uma espécie de maldição. Tudo se consuma numa geléia-geral amorfa e insípida, sem arestas e sem gume de transformação ou clivagem histórica.
Uma geléia cinzenta fagocitando vidas, sonhos, corpos e almas, temporadas, modas, décadas e gerações. Tudo indo pelo ralo. Personagens e símbolos significativos de um “agora”… se convertendo logo a seguir em páginas viradas de uma pantomima bufa, devidamente absorvidos como mero folclore, fantasia supérflua, sem a menor expressão, rumo ao mais estúpido esquecimento : eis o nosso método recorrente e tão peculiar de sermos “transgressores” e nos acharmos diferentes pela esperteza escorregadia: matar os movimentos transformadores pela aniquilação da memória . Tudo esquecidamente confortável, e a roda da História embrutecida no torpor do hedonismo inexorável, o nosso individualismo mais primitivo. Tudo por aqui segue esse padrão, essa saga, de trambolhão, gororoba de caráter bruto, ignorante, virando passado a cada dia mais rápido, atulhando o tempo histórico com camadas sucessivas de personagens e seus discursos inúteis.
Assim somos nós. Não somos nada.
No final, só o amor ficou. O restante virou pó.

Gratificação do Emburrecimento

Emburrecer é gozoso. Isso é facilmente constatado quando a realidade perversa constroi as suas pseudo-narrativas de razoabilidade.

Existe um processo de prazer na negação da inteligência, que faz da estupidez uma das formas de toxina mais viciantes que existem. A perda voluntária da sensibilidade produz o entorpecimento de todo arcabouço moral, um alívio ao desconforto resliliente e compulsório da consciência.

Quando o indivíduo entra no processo da auto negação no vício, o objetivo central é aniquilar os desafios cotidianos da verdade e da virtude. Encher a cara, drogar-se, perder o fio da meada, são formas de transgredir o eterno controle da existencia, gerando uma zona de penumbra em que o tempo e o espaço deixam de fazer sentido, tornam-se elásticos e amorfos como uma goma, uma geléia geral de auto indulgência no terreno do absurdo. O tempo é como uma prisão, que jamais nos dá trégua.  O entorpecimento estupefaciente bombardeia basicamente essa estrutura sem trégua, a vida inexorável , o Eros insaciável . Essa penumbra é o reino do Tanatos, da Negação.

O emburrecimento por indução coletiva também age da mesma maneira sobre as zonas de prazer do nosso sistema tão complexo quanto enclausurante.  A inteligência também pode ser percebida como uma prisão. Entrar nesse processo de desinteligencia nem é tão complicado de se explicar. Muito mais intrigante é buscarmos responder porque é tão difícil sair depois :  Uma vez instalado no território confortável da burrice, o (des)indivíduo torna-se um robô sem autonomia de seus atos, em troca da sensação de segurança que o coletivo brutalizado oferece.

Eis a matéria-prima para os dominios totalitários.

 

O que faz esse “Z” no nosso Templário ?

…parecia, ao menos para alguns críticos desatentos, um cenário macabro e improvável, um papo verborrágico e desimportante, um delírio irrelevante de alguém ultrapassado e em declínio criativo…
…parecia obra de uma imaginação exótica, estrangeira, desnecessária, medieval, distante de qualquer realidade tangível, e ambientada em remotas épocas e lugares de uma viagem pessoal desconectada do mundo real das preocupações e prioridades mais imediatas….
Não era bem assim.
Até o brasão no escudo do cavaleiro da capa, escudo que substituía de propósito a cruz cristã, e concebido a quatro mãos com Daniel Miguez, artista gráfico que daria forma à capa mais monumental da minha carreira, apocalíptica, em pura arte “geek”, trazendo o símbolo dos “Incas Venusianos” do “National Kid”, se mostraria involuntariamente premonitório.
…um pouco de atenção para um detalhe.
Hoje aquele “Z” está nos blindados de um massacre que o mundo assiste impotente e atônito, sem poder fazer nada para estancar, e que abre uma fenda geopolítica sem cicatrização à vista….
Até quando e onde irão a cegueira e o descaso ?
Para onde nos levará a “realidade porosa” dos algoritmos desse pesadelo ?
Como diz outra canção desse disco,
“A Cordilheira”… Inocência nunca mais…
Penso que foi mais uma nova epifania, uma torrente de revelação.
Mas só o tempo dirá o que foi, o que é.
Não adianta querer atropelar o tempo, e fazer com que as pessoas visualizem o mundo como a gente algumas vezes consegue enxergar.
Muitas vezes essas visões não vêm exatamente de nossos próprios olhos, mas de “algo passando através de nós”, e somos instrumentos a serviço de algo maior.
Sei bem o que é isso: ser um mero espelho, um prisma dentro de um Engenho Maior de Revelação.
Como o espírito da luz
Poderá mover o pendulo imerso em escuridão
Que balança entre as paredes da memória
Traz os pomos da discórdia
Faz a voz calar nos ecos da prisão
Nas crianças um receio de crescer
Contaminar o céu
Na cápsula de um tempo sem rancor
Cada dia é uma batalha desigual
Em nome de uma paz
E tudo que se entende por normal
É a bandeira incandescente da exclusão
Exércitos rivais, disputam seus despojos ancestrais
São troféus de honras e glórias sem pudor
Vitórias sem perdão, remorso já ficou pra trás.
É a desordem dos templários
Horda de mercenários dentro do coração
É a desordem dos templários
Horda de mercenários dentro do coração
Na cabeça do poder
Tudo só faz conspirar
A inquisição de crenças
Que virão nos condenar
Tudo é a lenda que se faz
Da treva que se vê
Na retina, a narrativa
Da verdade em que crê…
É a desordem dos templários
Horda de mercenários dentro do coração
É a desordem dos templários
Horda de mercenários dentro do coração
São botas de um milhão, robôs em batalhão
Vindo pisotear o santuário deste chão
Lagartas de metal, pneus de caminhão
Vindo pra tatuar o santuário deste chão
Em máscaras sem cor, macabros carnavais
Hoje o estandarte do arco-íris não se hasteia mais
Com sangue se pichou com ódio a cicatriz
Rasgou o punho cerrado que berrava num cartaz
E agora tudo jaz no pátio da Matrix
E o Cálix, que era bento, cai do altar da catedral
No vórtex do tufão, no códice dual
A lança do destino crava o córtex cerebral
São botas de um milhão, robôs em batalhão
Vindo pisotear o santuário deste chão
Lagartas de metal, pneus de caminhão
Vindo pra tatuar o santuário deste chão
Mil línguas a clamar vendendo seus patuás
A profanar seus templos, maldições de um avatar
Dividem mil nações em troca de orações
Em carruagens aladas despejando seus paióis
Cidade efervesceu e em fogo celebrou
Na pira Illuminati quando a cinza se aquietou
A noite desabou e a alma desistiu
De culpas e pecados a escritura se cumpriu
É a desordem dos templários
Horda de mercenários dentro do coração
É a desordem dos templários
Horda de mercenários
dentro do coração.

ESTRELA MÃE

Minha imensa alegria pelo Destino ter me concedido tempo e oportunidade para eu dizer tudo isto para você, mãe.
Sei quanto errei com você
Só trazendo mais preocupação
Quando eu não fui feliz
Tanta coisa impensada
Que eu fiz questão de negar
Todos sonhos seus comigo
Eu quis me afastar
Ao buscar meu caminho tão diferente
E só me ceguei ao esquecer do olhar
Pelo prisma dos seus sentimento
Mas os jovens lutam com tanto tormento
Que até mesmo um deus se sente abandonado
E o dia urge ao seu redor em vão
Quando acorda a hora anoiteceu
Vem pedir perdão
Eu peço apenas o seu silêncio
Seu ouvido pra escutar meu canto
Sua mão secar meu pranto
Nosso amor é sagrado
E vai acender no céu a estrela-mãe
Vem, que hoje eu quero te abraçar
Você doou seu melhor néctar
Na vida sempre cuidou pra esse amor jamais faltar
Você doou seu melhor néctar
Na vida sempre cuidou pra esse amor jamais faltar
Ouve, que eu te amo
Ouve, que eu te amo
Quem, como eu
Teve a sorte de nascer
De um exemplo lindo de mulher
Sempre a frente do seu tempo?
Quem, como eu
Teve a sorte de nascer
De um exemplo lindo de mulher
Sempre a frente do seu tempo?
Quem, como eu
Teve a sorte de te ter?
Ouve, que eu te amo
Ouve, que eu te amo