Despedidas 1

No post anterior, eu fiz, na verdade, uma simples divagação…nada mais.
Pensando, pensando…
Pensando em como é falso e enganador o “show business”, e de como pode ser, muitas vezes, canastrona e ridícula essa história de artista se despedindo da carreira. Às vezes não é. Não vou generalizar, porque há “despedidas” legítimas de quem já deu tanto para o Mundo… Despedidas dos palcos de quem está doente, cansado …
Agora… cá entre nós, ficar “se despedindo” eternamente é algo despudorado e malandro… Artista consagrado, e por mais valoroso e legítimo que seja, se despedindo espalhafatosamente e despudoradamente da máquina de fazer dinheiro que é ter se transformado num entertainer, e acreditar piamente nos números estratosféricos que a sua vaidade e auto-indulgência é capaz de conceber… também pode ser bem questionável .
É claro que o gênio continua existindo ali dentro. E se o aplauso e o compartilhar de sua arte lhe dá alegria, prazer, é também um apostolado, uma missão de levar ao mundo sua mensagem de beleza e de bênção, que é a música e o lirismo de suas letras.
Devo acrescentar que muitos desses astros estelares, como o generoso e queridissimo Elton John dedicam boa parte dos milhões que arrecadam a fundações e obras sociais, a causas nobres, e isso torna essa ” Fábrica de Sonhos” do showbizz muito, muito mais humana… sempre há parenteses positivos no mundo, a se considerar !
Até aí, tudo bem.
Eu, Guilherme Arantes, não tenho nenhuma pretensão de me comparar.
Já sei que haverão haters pra me espinafrar, dizendo que sou um micróbio a comentar os passos de um gigante.
Não gosto quando me comparam a ninguém, porque eu sei o quanto sou singular, tendo tido desde o início grande estranhamento e um perceptível “pé atrás” em relação ao “star system” , ao “showbizz” , tendo me sentido muitas vezes desconfortável e constrangido, quando cobrado a “performar” e a “vestir o personagem” como se diz na linguagem da arte dos palcos… eu sou desengonçado e caipirão, tenho uma autodesconfiança que fez, de verdade, que eu nunca atravessasse uma barreira invisível e assumisse o carisma das “grandes estrelas” .
Coloco aqui “grandes estrelas” com letras minúsculas, de propósito, porque estou falando de gente, gente igual à gente, gente igual a todo mundo, que é o que eu sempre preferi ser e existir.
Eu nunca vestí as lantejoulas das quais um dia eu pudesse querer me despedir.
A questão é que a gente percebe quando a “estrela” “está se achando…” e parte considerável do público adora… e até em suas projeções… acha necessário, obrigatório, “se achar” maravilhoso na glória dos holofotes… então o personagem adere, acaba perdendo a espontaneidade e passando a viver no Olimpo dos Deuses… isso é tão comum…e vulgar.
Para os atores, essa contaminação da personalidade é fatal, o bom ator é aquele que sabe que driblar essa armadilha é fundamental para o ofício da interpretação !
Aí, muitas vezes, é disso que o artista está cansado… sei lá.
Vejo, no resultado da minha divagação, nos comentários, que muitas pessoas logo intuiram que eu pudesse estar querendo fazer a mesma coisa: me despedir do “estrelato” … Comigo não tem estrelato. Meus mestres são Bach, Van Gogh, Pessoa, Saramago, Cassiano, Johnny Alf, Jon Anderson, todos gente de carne e osso e sem muita, ou nenhuma lantejoula no Ego.
Numerosas pessoas, ao comentar sem pensar ( como é costume nas redes ) até adoraram a idéia de aposentadoria, como se já ansiassem por ver a minha “estrela se apagar”, e até sugerindo que a despedida já vem em boa hora, “a voz já não é a mesma” “o sucesso já não acontece mais como antes “… um palpite compartilhado por certos autodenominados “cricríticos” jornalistas…
Tudo isso faz parte, a “decadência” já vem embutida, é um anseio mórbido de uma mentira chamada “ShowBizz” … é ridículo.
Só eu sei o quanto, clínicamente, técnicamente, à luz da laringologia e da fonoaudiologia, eu estou com uma voz que eu nunca tive em toda a minha vida desde a adolescência, alcançando notas e resistindo folgada e galhardamente a horas seguidas e ininterruptas de shows sem perder o gume na emissão vocal. Quem é meu fã de verdade sabe do que eu estou falando, tendo acompanhado os espetáculos da minha humilde gira no finado ano de 2022. Peço até que testemunhem isso nos comentários.
Voltando ao assunto deste post, digo peremptoriamente que eu não tenho Circo de Vaidades do qual eu queira me despedir.
A Música, que é a minha arte, nunca esteve tão nutrida, cheia de esperanças e com um futuro tão promissor na minha vida !
O “Showbizz” tem muito pouco a ver com esse território mágico no qual eu adoro e pretendo me aventurar. Adoro fazer shows porque os meus shows não se comparam ao “Circo das Mentiras e Vaidades” artificial do Entretenimento. Pelo contrário, são experiências de reflexão que eu compartilho com as pessoas, descarnadas de qualquer “profissionalismo Holiday On Ice”. Sou “apenas” um músico palestrante descarnado em humanidade, não sou um personagem em cena.
Pensem nisso.
Não esperem despedida. A despedida é uma espécie de morte.
…Querem que eu morra ?
Entenderam agora no que, exatamente, eu estava pensando… pensando … ????