Onde Estava Você

Quero agradecer a todas as manifestações de carinho e as curtidas por efeito do Clip de Onde Estava Voce…Fizemos um humilde retrato descompromissado da “cena de rua” de São Paulo, cena que se multiplica em muitas cidades brasileiras, de uma juventude perdida, que procura na atividade lúdica um sentido para a vida nas grandes cidades, numa época perversa de falta de oportunidades reais, de desencantamento e de angústia. É uma juventude bela e idealista, mas descrente e crítica com uma sociedade falsamente inclusiva. A juventude brasileira assiste a uma crise de valores que é mundial, mas em muitos aspectos é específica da Terra Brasilis. No caso da cena de rua de SP, é um fenômeno que vem na esteira de um profundo processo de mudança das relações de uso do espaço urbano. De uma capital industrial, ( que nem é mais , com a descentralização, a migração para outras áreas por incentivos fiscais e operacionais ) São Paulo vem se transformando em uma capital de uso lúdico , como também ocorreu com Londres, Paris e Nova York. É uma indústria também, que fabrica dinheiro com o “hype” cultural e a movimentação feérica nas ruas. São Paulo reproduz um “clima de Woodstock” a cada semana, explodindo nas ruas uma multidão de rastas, punks, rappers, hypsters, gblts, moicanos, descoletes e playboys, estudantes, bancários, operários, motoboys, desocupados, desempregados sem perspectiva ( a maioria ), e muitos etceteras e tais… O retrato desse Clip é de desesperança, mas de paradoxal esperança. Lançamos, de propósito, nas vésperas da Virada Cultural de SP, como uma homenagem. Uma homenagem a essa juventude, a essa multidão de performáticos, que tem tantos recursos incríveis da era digital, mas que se sente dispersa com tanta informação e possibilidades impossíveis…e que procura nas ruas algo que aconteça de transformação da sociedade, e que valha a pena viver para se viver. É uma juventude que não tem as barricadas de Paris de 68, que não tem Bossa Nova, nem Tropicália nem Jovem Guarda, que não tem Godard, Antonioni, Visconti nem Pasolini, que não tem Mutantes, nem Jean Genet, que não tem Hendrix incendiando o palco e a propria vida, que não tem Janis se imolando no proprio Blues, que não tem Morrison caindo em tropego desencanto no palco, que não tem Sargent Peppers, nem Banquete dos Mendigos, que não tem Iacanga nem Arembepe, que não tem Baby, Pepeu, Moraes, Galvão, Boca, que não tem Sergio Sampaio botando seu Bloco na Rua, que não tem Tony Tornado na BR3, que não tem Walter Franco nem Mautner, nem Macalé nem Melodia, que não tem o Pasquim, que não tem Bonjour Tristesse, nem Alegria, Alegria, que não tem Aldous Huxley, nem Helio Oiticica nem Glauber, nem Plinio Marcos, Andy Warhol nem Basquiat, que não tem Easy Rider, que não tem Sex Pistols nem Clash, que não tem Jack Kerouac nem Julio Barroso, nem Cazuza, nem Renato Russo, que não tem um monte de coisa…

MAS TEM TUDO ISSO GUARDADO NO PEITO, TRAZ TUDO ISSO MUITO VÍVIDO E PRESENTE NO BRILHO DOS OLHOS, e se vai pra rua ´é pra se reconhecer no olhar dos demais, na angustia dos demais, na feérica busca dos demais.

Por mais que a minha geração tenha vivido um tempo incrível de transformações claras e perceptiveis na sociedade, e ter muitas memórias , e ser feliz por isso, a gente olha essa cena atual e se pergunta : O que é isso ? O que quer realmente dizer ? E o que VAI dizer para o futuro ? E o que vai ficar ? Pra onde vai caminhar ?
Um tempo extremamente paradoxal, de grandes milagres, maravilhas e desafios, de perversões e um profundo desencanto, enfim, de uma inacreditável confusão….

Por tudo isso, minha homenagem :

Onde Estava Você ????????????

( Maio de 2014 )